quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Capítulo 7 - Afinal…

Estava há dez minutos com uma página do Word aberta à minha frente e não tinha escrito uma palavra sequer. Tinha o cérebro completamente bloqueado, o que me estava a irritar profundamente pois a vontade de ir para casa descansar era muita. Pensei, repensei e voltei a pensar… e não saía absolutamente nada.
Encostei-me, então, na cadeira, deitei a cabeça sobre o encosto e coloquei os pés em cima da secretária. “Talvez dois minutos assim me relaxem e me devolvam a criatividade”, pensei. Fechei os olhos e deixei-me envolver por aquele silêncio. Não estava a resultar. “Ok, só mais cinco minutos e tem mesmo de me sair qualquer coisa”. Mas estava tão cansada que comecei a sentir o corpo a relaxar demasiado, os olhos a já não quererem abrir e o silêncio a adormecer-me lentamente.

So I won't hesitate no more, no more; It cannot wait I'm sure
There's no need to complicate, our time is short; This is our fate, I'm yours

Saltei da cadeira num ápice assim que ouvi o telemóvel da empresa a tocar. Olhei para o visor, não conhecia o número que aparecia. “Já devem ser os gajos da imprensa a chatearem-me por alguma coisa”, pensei antes de atender.

- Estou?
- Ana? – hum, aquele sotaque era giro, mas a voz não me era assim tão familiar.
- Sim, sou eu.
- Oi, tudo bom? É o Dávi… (pronuncia brasileira)
- Quem?
- David Luiz (pronuncia portuguesa em esforço) – “COMO?”, Pensei. Nem podia acreditar que ele me estava a ligar. – Desculpa o incómodo, mas foi o Paulo que me deu o seu contacto.
- Claro, não há problema. – Começava a sentir-me um bocadinho nervosa. – Mas a que devo este telefonema?
- Bom no caminho de regresso, eu e o Paulo viemos falando sobre você, do seu trabalho claro (envergonhado), e aí eu lembrei que você nem me deu uma resposta.

Estava completamente em estado de choque. Mas preferia continuar a fazer-me de burra.

- Uma resposta sobre? – Perguntei.
- O jantar – agora sim aquela voz era de quem estava mesmo envergonhado.
- Ah, o jantar. Pois, pensei que não tinha passado mesmo de uma brincadeira…
- Hum, então você não está a fim?
- Não…quero dizer, sim.
- Em que ficamos?
- Sim, a resposta é sim. Estou. Só não estava mesmo nada à espera do convite e deste telefonema – mentia descaradamente.
- Mas a ideia foi sua.

Sorri e voltei a colocar os pés em cima da secretária.

- Sim, pois foi. Só não pensei que a levasse a sério. Sobretudo depois do que o Paulo disse.
- Ah, mas esse eu já conheço bem. E eu queria mesmo me desculpar pelo estrago lá daquela noite.
- Oh, não há problema. Mas parece-me bem este jantar. Pelo menos eu também me posso desculpar por ter sido mal-educada. – Sorri.
- Jantamos hoje, então?
- Claro. Onde?
- Estava pensando num restaurante bem pertinho do sítio do acidente. Tem uma salinha meio privada lá e eu conheço o dono. Você mora perto?
- Do local do acidente? Sim. Cinco minutos de carro. Qual é o nome do restaurante?
- “Ponto de Encontro”. Conhece?
- Conheço, costumo ir lá com a minha amiga Si. Parece-me muito bem. Encontramo-nos lá?
- Como der mais jeito.
- Prefiro assim. A que horas?
- Às oito ‘tá bom para você?
- Sim e para si?
- ‘Tá óptimo.
- Ok.
- Só mais uma coisa, Ana. Pode me tratar por tu?
- Não prometo. Hábito profissional. – sorri.
- É, eu compreendo. E eu reparei que você faz o mesmo com o Paulo.
- Pois, não é fácil.
- Então mas você tenta, ok?
- Combinado.
- Até logo mais… bom trabalho.
- Até logo. Obrigada.

Desliguei e sorri durante mais de cinco minutos. Era difícil acreditar que tinha acabado de ter aquela conversa com o David Luiz. Era difícil imaginar que ia jantar com ele. Mas mais difícil ainda era tentar perceber que coincidências eram aquelas que teimavam em cruzar os nossos caminhos.

“Não quero saber”, disse em voz alta enquanto pegava no telemóvel para ver as horas. “AAAAAAAAHHHHHHHHH. Merda, já são seis horas e eu ainda tenho a porcaria do texto para escrever e as fotos para escolher. Oh, porra, não vou conseguir. E ainda tenho de ir a casa tomar banho, vestir outra coisa. Oh merda porque é que disseste que às oito estava bem, Kika?? E agora o que é que fazes, Kika Maria? Pensa, pensa. Não, pensar não. Escrever. Escreve, escreve. Vá lá cérebrozinho, desenvolve.”

Puxei a cadeira para a frente, peguei nos apontamentos que tinha tirado ao longo da manhã, fui buscar os comunicados que tinha enviado antes da iniciativa e, extraordinariamente, a minha imaginação começou a soltar-se. Escrevi, apaguei e voltei a escrever até que finalmente me pareceu ter um comunicado com tudo de importante que havia a dizer sobre o assunto. “Agora as fotos, vá lá”. Percorri todos os ficheiros, um a um. Fui apontando os números das melhores e rapidamente cheguei a uma lista reduzida de fotos extraordinárias. Cada vez que via uma do David, deixava escapar um sorriso. Tinha o coração acelerado, em parte pela pressão das horas em parte pelo nervoso miudinho que aquele jantar me estava a provocar. Finalmente, tinha à minha frente cinco maravilhosas fotografias sobre o evento. Abri o e-mail, adicionei todos os endereços de comunicação social que tinha na base de dados e fiz seguir o material. “UFA, já está. Que horas são, que horas são?”.
Faltavam cinco minutos para as sete. “Como é que eu vou fazer isto?” Peguei no telefone e liguei à Si, enquanto fechava o gabinete, saía da empresa e fumava um cigarro antes de entrar no carro.

- Babe, estás em casa?
- Sim e tu?
- Vou sair da empresa. Preciso de um grande favor.
- Diz.
- Mas não me faças perguntas. Explico-te em casa.
- Mau. O que foi?
- Vai ao meu quarto e prepara-me uma roupa bonita, mas normal. Estás a ouvir? Normal.
- Para?
- Tenho um jantar às oito. Ainda tenho de tomar banho.
- Ok.
- Vá, xau, beijinho.
- Olha…
- Diz.
- Vais jantar com quem?
- Depois, Si, depois. Vou conduzir agora.
- Está bem. Vem com cuidado.
- Está. Beijinho. Até já.

Fui o mais depressa que consegui. Não queria mesmo chegar atrasada ao jantar. Odeio fazer esperar, porque odeio ainda mais que me façam esperar a mim. Enquanto conduzia ainda mandei uma sms ao Paulo. “Vou jantar com o 23. Adoro-te”. Um segundo depois tinha uma resposta. “Com o Postiga?”. Soltei uma gargalhada e escrevi nova sms. “Parvo. Com o David Luiz. Bj”. Ele voltou a ser rápido na resposta. “Já sabia. Tb te adoro”. Cheguei a casa às sete e vinte. Subi as escadas a correr. Benzi-me antes de entrar em casa. Já sabia que me esperava um questionário policial.

2 comentários:

  1. Gosto mesmo imenso desta fic. :b
    Já estava a precisar e ler uma fic em que a personagem principal fosse "adulta" e não uma rapariga de 16, 17 anos. Não é que eu não goste dessas fics, mas já estava a faltar uma assim.
    Gosto imenso do facto de eles não se terem beijado logo no primeiro capítulo e de a fic parecer tão real.
    Parabéns e posta rápido que estou ansiosa por saber o que se vai passar a seguir. (:

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  2. Olá,

    muito obrigada por leres, comentares e gostares.

    Vou tentar postar mais ainda hoje.

    Beijinhos

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