terça-feira, 21 de setembro de 2010

Capítulo 16 - Resultado inesperado

 

A Sílvia saiu do carro com o seu sorriso mais fantástico. Parecia um pouco cansada mas nada que afectasse a sua boa disposição. Chegou junto de nós e deu-me logo dois beijos. Estava eu prontinha para começar as apresentações, quando a Sílvia se dirigiu ao David.

- Olá David, tudo bem? Eu sou a Sílvia. Obrigada pelo convite.
- De nada. Vamos subindo?

A Si era assim. Desenrascada. E não gostava nada de formalismos. Entrámos no prédio e o David pôs o pé no primeiro degrau das escadas. Eu fazia tenções de o seguir, mas bastou olhar para a cara da minha amiga para perceber que ela não. A Si até gostava de ir ao ginásio, fazer umas corridas e umas caminhadas… mas subir escadas não era definitivamente o seu forte. “Caminhar sim, mas a direito”, respondia-me quando eu a convidava a subir uns degraus.

- Desculpem lá mas eu vou no elevador, ok?
- Você prefere. Então vamos todos. – Respondeu-lhe o David.
- Não, vocês podem ir pelas escadas. Diz-me só em que andar saio?
- Sétimo.
- Obrigada. – Respondeu a Si, fazendo um sorriso provocador que eu conhecia tão bem e que não costumava ser bom presságio. – Estás a ver Kika, eu não te disse que descobria?! E como sou jornalista, vou directamente à fonte.
- Sim, claro. Entra no elevador e cala-te.

“Porra, ela estava a falar da janela. Vou matar esta gaja”, foram os primeiros pensamentos que me ocorreram depois de a ouvir. A Si entrou no elevador, mas o David não iniciava a subida. Olhou para mim intrigado.

- Ela estava falando do quê?
- Nada, não ligues, ela é meia maluquinha. Vamos subir. - E, sem olhar para trás, comecei a subir os degraus um a um.

Não estava a ser uma subida agradável, principalmente para uma pessoa como eu que não faz qualquer tipo de desporto, a não ser limpar a casa. “Sá falta um andar”, dizia-me o David tentando animar-me mas eu já estava quase morta.

- Espera, tenho de parar um bocadinho.
- Ok, inspira e expira lentamente que ajuda.
- Obrigada. – Disse-lhe enquanto fazia o que ele me aconselhava.

Recuperei um bocadinho o fôlego e continuei.

- Fazes isto todos os dias, David? – Perguntei-lhe enquanto subíamos.
- Sim. Não gosto muito de elevadores.
- Eu também não aprecio, mas não me vejo capaz de fazer isto todos os dias. Embora me fizesse bem. – Disse-lhe enquanto subia os últimos degraus – Mas sete andares é muita fruta.

Olhei em frente e vi a Si, sorridente, à nossa espera.

- Sete? – Perguntou o David.
- Sim, nós também moramos no sétimo andar.
- Eu sabia. – Disse muito baixinho, mas ainda assim de forma audível, enquanto fazia um sorriso infantil.
- Sabias o quê?
- Nada, não ligue não, eu sou meio maluquinho.

Fiquei demasiadamente intrigada com aquela resposta. Passava-me pela cabeça a possibilidade de ele estar a referir-se à janela, de aquele “eu sabia” ser a confirmação das dúvidas dele, que seriam iguais às minhas. Obviamente também me passou pela cabeça que eu estaria a fazer um grande filme com aquela situação, o que ultimamente era habitual. Estava a ficar completamente pateta e a culpa era daquele rapaz que estava à minha frente a falar comigo.

- Lagartixa, você ‘tá ouvindo o que eu ‘tou falando?
- Não, desculpa.
- Falei para você entrar – a porta estava aberta, e o David e a Si esperavam que eu entrasse – e pedi para você não fazer piadinha lá dentro.

Olhei para ele ainda mais confusa. Continuava atónita. Entrámos directamente para a sala, onde já estavam o Ruben, o Gustavo e a Raquel. Olhei em volta e não pude evitar um largo sorriso. “Já percebi”, murmurei enquanto admirava não só a decoração normal da sala mas também as várias fotografias, posters e até a camisola de campeão do Benfica com o número 23 que estava numa moldura na parede.
Enquanto o David nos apresentou o Gustavo, a Si apresentou-se sozinha, claro. A “playsation” já estava preparadíssima para mais um jogo e os rapazes nem hesitaram sentar-se no sofá e começar a jogar. Uma atitude que deixou a Raquel com os nervos em franja. Percebendo que não havia nada a fazer, dirigiu-se para a cozinha. Eu e a Si seguimo-la. Tal como eu, também a Sílvia parecia gostar da Raquel apesar de ter acabado de a conhecer. Abrimos frigorífico, portas de armários, gavetas, invadimos a despensa e meia hora depois tínhamos um belo lanche em cima da mesa da sala. Foi difícil tirar os rapazes de frente da consola, uma situação apenas resolvida pela paciente mas determinada Raquel. O lanche serviu não só para matarmos a fome mas também para conversarmos animadamente. No caso da Raquel serviu ainda para receber um convite, feito pela minha amiga Si, para pousar para um trabalho que ela estava a pensar fazer. Eu não percebo de fotografia para além do básico, mas de facto tenha de admitir que a Raquel era de uma beleza estonteante. Não foi fácil para a Si convencê-la, já que a Raquel defendia não ter nada de especial que proporcionasse umas boas fotos e assumia-se como uma crítica nata em relação àquele hobbie. “Recuso-me a chamar-lhe profissão”, dizia ela perante o nosso olhar atento. A conversa girava em torno daquela proposta que todos, à excepção da principal visada, defendíamos que devia ser aceite. Estávamos numa discussão animada quando o David se levantou, se dirigiu para o sofá e depois de alguns minutos resolveu interromper.

- E aí, lagartixa, vamo jogar?

“Fodasse” foi a minha primeira reacção àquela pergunta. Comecei a sentir o corpo todo a tremer quando o David me lança de longe o comando da Wii. Fiz um movimento brusco que quase me atirava da cadeira a baixo e segurei-o. Compus-me e estava pronta para me levantar quando o Ruben se intrometeu, a rir.

- Mano, tu és um bocado parvo. Já não viste hoje que ela não sabe jogar? Queres rir-te mais um bocadinho, é isso?

O David nem lhe respondeu. Ficou só a olhar para mim à espera da minha resposta. Eu nem abri a boca. Levantei-me e caminhei para junto dele. Entretanto, a Sílvia, que tão bem conhecia os meus dotes, caracterizados sobretudo por uma tremenda sorte com alguma agilidade à mistura e não propriamente pelo “know-how”, sorriu e gritou para o David.

- Se eu fosse a ti não fazia isso.

Mas ele manteve-se ali, sem qualquer movimento, à minha espera. Eu aproximei-me, pisquei-lhe o olho e perguntei-lhe serenamente.

- Quem joga primeiro?
- Primeiro as senhoras – Respondeu-me com um sorriso rasgado.

Eu sentia-me a tremer cada vez mais. A minha mão humedecida pelos nervos segurava com alguma dificuldade no comando, mas por momento algum deixei transparecer falta de confiança. Preparei o meu corpo e a minha mente e pensei para com os meus botões, antes de fazer o lançamento: “ok Kika, agora fazes aquilo que melhor sabes quando jogas – INVENTAS”.
O lançamento saiu perfeito. O David olhou-me de forma surpreendida e os quatro que continuavam sentados à mesa bateram palmas. Senti a vergonha a apoderar-se de mim. O David jogou, eu joguei, ele jogou, eu joguei… e o jogo manteve-se sempre renhido. A cada nova jogada o meu sorriso aumentava e o meu coração batia um pouco mais acelerado. Não sei se pela adrenalina de estar em “competição” se pelo facto de não conseguir tirar o prémio do pensamento. Eu fiz a minha última jogada, que apesar de atabalhoada saiu magistral, e faltava apenas uma jogada ao David. Olhei para ele e tentei intimidá-lo. Ele parecia não se deixar importunar. “Está habituado à pressão”, pensei. O David pegou no comando, preparou-se e… não conseguiu um lançamento tão magistral quanto o meu.

- Ganhei – disse-lhe com um sorriso rasgado – Eu disse-te que sou a campeã da Wii.
- Parabéns – respondeu-me friamente e apenas algum tempo depois.

Os aplausos dos nossos amigos fizeram dilatar ainda mais o meu sorriso. O Ruben e o Gustavo não paravam de fazer troça do David, a Raquel repetia vezes sem conta que “as mulheres são invencíveis” e a Sílvia limitou-se a balbuciar um “eu avisei-te”.
O David continuava sentado no sofá, com cara de poucos amigos, fingindo não ouvir nada do que lhe diziam. A Raquel e a Sílvia voltaram ao tema da sessão fotográfica, o Ruben e o Gustavo agarraram-se à Wii, eu olhava para o David e ele… bem, ele levantou-se disparado.

- Vou preparar o suco de manga.
- Obrigada, David. – Respondeu-lhe a Raquel, nunca deixando de prestar atenção à Sílvia.

O David olhou para mim de uma forma arrogante e começou a caminhar em direcção à cozinha. Eu fiquei ali, a olhá-lo, num misto de constrangimento e irritação.

- Este gajo passou-se! – resmunguei baixinho, mas de forma a que todos os outros pudessem ouvir.

A Sílvia, o Ruben, a Raquel e o Gustavo não deram a mínima importância ao que acontecera. A Si porque tinha acabado de conhecer o David, os outros três talvez por que o conhecessem bem demais. Mas eu… eu não consegui disfarçar o incómodo que estava a sentir naquele momento. Levantei-me determinada e caminhei em direcção à cozinha.

9 comentários:

  1. Está tão linda a história... fantástica mesmo!
    Mas agora quero saber o que vai acontecer na cozinha... pleaseeee... outro, só hoje(estou a fazer beicinho, ouviste?!, ou melhor, leste?! :)
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Óoooooohhh, então, quero mais....
    Isto é viciante, mt bom.

    Elsa

    ResponderEliminar
  3. Isto não vale, então na parte mais interessante acaba o capitulo. Curiosa como eu sou, vou ficar em pulgas até saber o que se vai passar naquela cozinha.

    Marisa

    ResponderEliminar
  4. Mais por favor!
    Ai que lindo, ela tem de lhe dar o tal beijo :D

    ResponderEliminar
  5. Oh amei!!
    Ai que sera que tem o menino David? :)

    ResponderEliminar