sábado, 4 de setembro de 2010

Capítulo 2 - A (des)organização de eventos

        Estava a meio da primeira semana de Janeiro, muito chuvosa por sinal, e, apesar dos dias de descanso em Coimbra, já andava exausta. Antes do Natal, a Câmara Municipal do Seixal tinha pedido à empresa onde trabalho que voltasse a organizar, juntamente com os técnicos da autarquia, nova edição do evento “Ídolos voltam à escola”, agendada para a quarta-feira, dia 20 de Janeiro. O evento era patrocinado pela empresa e consistia em levar às várias escolas do concelho, em diferentes datas ao longo do ano escolar, dois ídolos das crianças da primeira à quarta classe, entre actores, cantores, futebolistas, etc… Um projecto que o Dr. Gonçalves, administrador da empresa, tinha abraçado com todo o carinho, que me dava bastante prazer mas também uma trabalheira imensa. Escolher o tema, escolher as escolas, marcar a data, escolher os “ídolos”, entrar em contactos com eles, ou melhor com os agentes, marcar reuniões, fazer mil e um telefonemas, ouvir muitos “nãos”, discutir interminavelmente com os técnicos da Câmara. Uma estafa, mas que no final trazia a melhor retribuição de todas: o sorriso das crianças.
        Para a próxima edição do projecto, escolhemos os jogadores de futebol. “Um do Sporting e outro do Benfica”, foram as ordens do Dr. Gonçalves e do presidente da Câmara, justificando “temos de agradar a todos os meninos”. “Sim”, pensei eu, “e os que são do FC Porto?”. Mas são eles que mandam.
        A semana estava a ser terrivelmente stressante. Faltavam apenas duas semanas para o evento, e ainda não tinha as respostas dos clubes sobre que jogadores estariam presentes. Decidi ligar para o Paulo Leitão, a pessoas responsável por esses assuntos no Sport Lisboa e Benfica.
- Olá caro Paulo. Como está?
- Estou bem e a Doutora?
- Não comece já a abusar da minha paciência, Paulo. – retorqui num tom de brincadeira. O Paulo era uma pessoa sensacional. Para além da relação profissional, acabámos por nos tornar amigos. Às vezes ele ia lá a casa jantar. Era sem dúvida uma presença masculina muito importante na minha vida e na vida da Si. O único contra não era trabalhar no Benfica, mas sim ser um benfiquista de alma e coração. Como a Si não liga nada a futebol, óbvio que os protagonistas das discussões acesas sobre as jornadas eram entre mim e o Paulo. A nossa amizade nunca pôs em causa, no entanto, a nossa relação formal no trabalho. E por isso, eu era tão exigente com ele como com qualquer outra pessoa. Para que isso fosse possível, também a forma de nos tratarmos era formal, de tal forma que a mantivemos assim mesmo na relação do dia-a-dia.
- Já tem algum jogador disponível para dia 20?
- Sim, escolha um: o Kardec ou o Javi?
- Oh Paulo, está a gozar comigo?
- Qual é o problema?
- Com esses jogadores nenhum, mas acha que cinquenta crianças de 7 anos vão reconhecê-los ao longe e ficar eufóricos a gritar o nome deles? Não me dificulte a vida.
- E então?
- Quero o Luisão ou o Fábio Coentrão.
- Quer?
- Quero. E sem desculpas esfarrapadas. E quero a resposta até ao final da semana. Desenrasque-se.
- Bem… para mandar está cá a Doutora.
- Volta a chamar-me Doutora e logo à noite tem uma surpresa no seu prato ao jantar.
- Isso é um convite?
- Não. É uma ordem.
- Chiça, nunca conheci uma mulher com tanta mostarda no nariz.
Soltei uma gargalhada que se deve ter ouvido no edifício todo.
- Às 20 horas lá em casa, sem atrasos. E uma resposta definitiva até sexta-feira. Não me falhe.
        Desliguei e liguei de imediato para Cristina Amaral, a responsável pelo assunto no Sporting Clube de Portugal. Uma senhora com uma voz doce e um sorriso encantador. Muito responsável mas também muito inteligente na forma de apresentar desculpas.
- Olá Cristina, tudo bem?
- Olá Ana. Olhe, vamos andando: cheia de trabalho, com a secretária cheia de papéis e inúmeras reuniões na agenda.
- Estou a ver. O que vale é que a Cristina é tão eficiente que com certeza já tratou do meu assunto. – Sorri e ela também, embora disfarçadamente, consegui perceber.
- Pois, minha querida. Já tratei, mas ainda não tenho uma resposta definitiva.
- Ok. Mas vai conseguir assegurar a presença do Daniel Carriço, como tínhamos falado?
- Não. Mas falei com o Liedson e ele achou óptima ideia. Ele adora tudo o que a Ana organiza. A festa do Natal no Lar, então, ele adorou.
- Óptimo. O que falta, então?
- Questões burocráticas.
- Sim, mas isso para si é canja, Cristina. Aguardo resposta então até sexta-feira.
- Combinado, minha querida.
        UFA, que dias estafantes estavam a ser estes logo a começar o ano. Saí da empresa por volta das seis e um quarto da tarde. Olhei pelas vidraças e vi que chovia torrencialmente. Mas a vontade de sair dali era tanta que isso nem me estava a incomodar. A passar pela portaria o porteiro ainda me perguntou “Quer um guarda-chuva, Doutora”. Respondi-lhe apressadamente enquanto me preparava para uma corrida até ao meu Renault Clio de 1991: “Não, e não me trate por Doutora, Fernando, sabe como eu odeio”. “Ok menina Ana”, ainda o ouvi responder antes de me meter debaixo daquela tempestade.

Já em casa, tomei um banho, vesti um fato-de-treino quentinho e preparei uma massa á bolonhesa para o jantar. A Si chegou pouco depois. Vinha chateada porque a tinham mandado fotografar a Cinha Jardim a sair de uma audiência em tribunal.
-Metem-me em cada uma. Duas horas à espera e a VIP passa lá no BMW a abrir. Não tenho uma única foto de jeito para apresentar ao meu chefe.
- Deixa lá. Essas famosas andam sempre às bocas umas às outras. Não tarda estão outra vez em tribunal.
- Pois, mas eu odeio não conseguir as fotos. Bem, vamos é jantar que eu estou esfomeada.
- Espera, falta o Paulo.
- Oh o meu leitãozinho vem cá jantar hoje.
- Sim e deve vir chateado comigo.
- Discutiram?
- Não mas já sabes como eu sou. Epá eu quero o Luisão ou o Coentrão naquilo dos putos e ele fala-me em Kardec e em Javi?
- Quem?
- Pois, isso mesmo. As criancinhas iam perguntar o mesmo?
- Ok.
- E eu quero um que fale português, mesmo com sotaque.
- E do Sporting?
- Vai o Liedson, em princípio.
- Em princípio?
- Sim, estás a ver como o meu trabalho também é lixado.
- Kika, por falar em Sporting, se chover desta maneira na sexta-feira estás tramada para ir ver o jogo.
- Pois, mas vou na mesma, tenho mesmo saudades de ir ao estádio.
        A campainha dá sinal. Abro a porta e o Paulo entra com duas flores, uma para cada uma. Antes sequer de nos cumprimentar deixa um aviso.
- Não quero falar sobre trabalho ao jantar.
       “Ok” respondemos em uníssono. Rimos os três perdidamente. O jantar foi agradável. Depois nem tanto. Como não podíamos falar em trabalho, acabámos a noite a discutir sobre mulheres e homens bonitos em Portugal. Pouco digno de se ouvir, acho que os vizinhos um dia vão zangar-se connosco.

4 comentários:

  1. Olá!
    Vi a tua fanfic num comentario que fizeste á historia da sandra e decidi vir ler!
    Está muito boa! gostei imenso!
    ja a divulgaste? podias por o link no chat do "david luiz fans" que tenho a certeza que toda a gente vinha ler :)
    reparei ainda que a protagonista é de coimbra, eu também! minha cidade <3 vives cá?
    bem, fico á espera do proximo capitulo!
    xoxo

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  2. Olá Beatriz

    Obrigada por leres e gostares

    Obrigada também pela ideia. Já divulguei a minha história no chat do David Luiz Fans. Espero resultados.
    Sim sou de Coimbra.

    Assim que conseguir coloco novo episódio.

    Obrigada e beijinhos

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  3. estou a adorar a tua fanfic :D
    continuaa .

    depois dá um saltinho no meu blog . tenho lá a minha fanfic :)
    http://sofiarc.blogspot.com/

    beijinho

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  4. Obrigada Sofia

    acabei de colocar novo capítulo. espero que gostes

    claro que vou ler a tua também. Depois deixo comentário.

    Beijinho

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