sábado, 25 de setembro de 2010

Capítulo 18 - Elas são iguaizinhas!

 

Quando saí do prédio do David encontrei a Si encostada ao seu carro, de sorriso rasgado, a abanar as chaves que tinha na mão direita. Fitou-me com o seu olhar curioso e eu não evitei um sorriso denunciador. Ela atirou-me as chaves num movimento veloz.

- Levas tu o carro – ordenou-me – porque eu estou farta de conduzir hoje e para além disso quero ir sentada descontraidamente a ouvir-te.
- A ouvir-me? – Perguntei-lhe com uma curiosidade fingida.
- Sim, Kika, e escusas de tentar enganar-me que eu sei que alguma coisa se passou naquela cozinha.
- Ok, ok, vamos lá embora que está um frio do caraças.

Entrámos no carro e arrancámos. Mal tínhamos saído do estacionamento do prédio e já a Si estava sentada de lado, a olhar para mim atentamente.

- Então, houve beijo?

Eu olhei para ela e sorri. Por muito que me esforçasse nunca iria conseguir mentir-lhe. Nem a ela nem a ninguém. Estava com aquela sensação de que tinha escrito na testa “Beijei o David Luiz”.

- Oh, claro que houve beijo. – Disparava a Sílvia - Esse sorriso diz tudo. Como foi?
- Bom.
- Só bom?
- Não, tens razão, foi muito bom. Mesmo.
- Foi tipo para fazerem as pazes depois daquela cena esquisita na sala?
- Não. Foi um prémio.
- Um prémio?
- Sim. Para o vencedor do jogo de bowling. – Sorri envergonhadamente.
- O quê? Não posso crer. Então tinham tudo combinado? Foi tudo encenação?
- Não, não. Nada disso.
- Então explica-te se faz favor.
- Sim mãezinha.

Soltámos uma gargalhada conjunta e eu comecei a contar à minha melhor amiga aquela história maluca.
Chegámos a casa e o tema da conversa mantinha-se. Enquanto eu falava, entrei no meu quarto e a Sílvia seguiu-me.

- Bem… por isso tu não consegues tirar esse sorriso enorme da cara.
- Oh, não sejas assim.
- Assim como, Kika? Tu estás completamente derretida. O que é perfeitamente compreensível, afinal de contas o David é um homem com H grande, com O grande, com M grande… enfim, esperemos que com tudo muito grande.
- Sílvia sua porca depravada. – Gritei-lhe. – Sai já do meu quarto.
- O que foi? Vais-me dizer que não pensas o mesmo?
- Sai, sai, sai – disse-lhe por entre sorrisos e empurrões – vai lá dormir, que estás a precisar.

A minha amiga não conseguia parar de rir. Mas, resignada, lá se encaminhou para a porta. Saiu e quando estava mesmo a fechar a porta atrás de si, voltou-se para mim. Pela cara, consegui adivinhar-lhe uma provocação.

- Esse rapaz faz-te bem. Esse brilho nos teus olhos está quase a cegar-me.
- Xô. Vai para a cama. – Disse-lhe imitando uma voz zangada.
- Ai, David Luizzzzzz – Ela tentava um sotaque brasileiro e fingia uma voz orgásmica. Tentei mandar-lhe uma almofada, mas a Si fechou a porta num ápice. Ainda a ouvi gritar no corredor. – E tem um amigo giríssimo. Aquele Gugu. Oh My God.

Soltei uma gargalhada descomunal. De facto, aquele dia tinha sido realmente encantador. Não só pelo magnífico beijo do David, mas pelos amigos que tinha acabado de fazer e por ter conseguido passar uns momentos agradavelmente descontraídos com a minha melhor amiga. Coisa que há muito não acontecia.

Instintivamente, fui encostar-me na janela. Olhei lá bem para o fundo e conseguia adivinhar o vulto do David na outra janela. Naquela tarde tinha ficado ainda com mais certezas de que era ele. Sorri e fiquei à espera da prometida mensagem, que não tardou em chegar.

“Vou dormir com o gosto do seu beijo :) Amei o dia. Obrigada, lagartixa campeã de bowling... na Wii. Beijo”

Deixei-me levar pela sedução daquela mensagem e respondi-lhe quase sem pensar.

“E eu vou dormir com o toque doce dos teus lábios :) Também gostei muito. Obrigada eu, caracolhinhos derrotado. Beijo”.

E foi de novo com um bailado de borboletas a invadirem-se o corpo que me deitei e adormeci.

*********

A semana começou de forma muito cansativa. As horas de espera na Câmara do Seixal por um papel desaparecido e a reunião desgastante com o Dr. Gonçalves e o João tornaram a minha segunda-feira num verdadeiro tormento. Daquele encontro tinha saído a decisão de apostarmos apenas numa inserção pontual de publicidade nos jornais e rádios que tinham divulgado a iniciativa dos miúdos e a informação de que em Abril, quando a empresa comemorasse mais um aniversário, faríamos uma grande campanha publicitária. Já no meu gabinete tratei de marcar por telefone as várias reuniões que teria ao longo da semana com os técnicos comerciais dos vários órgãos de comunicação para acertar todos os pormenores. Nessa noite, voltámos a encontrar-nos os seis para um jantar num restaurante em Odivelas, depois do treino do Gustavo.
Na terça e na quarta-feira fiz uma maratona de reuniões. Horas e horas de trânsito, discussões e mais discussões e um sem número de contas feitas para ajustar os preços que me eram apresentados ao orçamento global que me tinha sido disponibilizado na empresa. Na noite de terça-feira voltámos a jantar os seis, desta feita em casa do Ruben e da Raquel. Aqueles jantares a seis começavam a tornar-se um pseudo-ritual. Eram divertidos encontros, marcados por discussões de todas as espécies, jogos de consola e sessões fotográficas feitas pela Si. Embora nos conhecêssemos todos há poucos dias, nem por um minuto as “estrelas da companhia”, o David e o Ruben, se mostraram incomodados com as fotos tiradas pela Si. Ela obviamente começou por pedir-lhes autorização e garantiu-lhes que jamais utilizaria aquelas fotos com fins menos próprios. Eles sabiam que ela também fazia serviços de paparazzi mas acreditaram piamente nela e a máquina fotográfica da Si começava já a fazer parte “do grupo”. Na quarta-feira, almocei com o Paulo e a Sílvia, que durante a tarde viajou para Coimbra. Tinha finalmente os seus merecidos dias de descanso. Nessa noite jantei com o Paulo no Seixal. Aproveitar para colocá-lo a par de tudo o que passava.

A quinta-feira prometia mais do mesmo. Reuniões, contas, papeladas. Uma verdadeira correria. Tinha reservado o dia apenas para os jornais desportivos e de manhã fui logo para Lisboa. Confesso que ao fim de quase sete meses, conduzir naquela cidade ainda me atormentava. Às quatro e meia da tarde tinha o trabalho concluído. Apesar de não conhecer muito bem Lisboa sabia que a faculdade onde a Raquel estudava não ficava longe e por isso resolvi desafiá-la para um cafézinho. Por sorte a Raquel estava a sair das aulas e em menos de quinze minutos já estávamos sentadas numa bela esplanada à conversa.

- Então já falaste com a Si hoje? – Perguntava-me a Raquel por entre duas goladas do café.
- Já. Está óptima. Está de férias e ainda por cima ao pé dos miminhos da mamã…
- Pois, imagino. Aliás não sei como vocês conseguem viver tão longe da família. Posso? – Perguntava-me apontando para o meu maço dos cigarros.

Acenei-lhe positivamente com a cabeça e devo ter feito uma cara surpreendida, porque tratou logo de me esclarecer que de vez em quando um cigarro lhe sabia bem.

- Não é fácil, Raquel, mas é suportável. E depois o stress do dia-a-dia não deixa muita margem para pensar nisso.
- Eu acho que não conseguia.
- Conseguias claro. O ser humano tem capacidades recônditas que só descobre quando a necessidade aperta. Se algum dia precisares de o fazer vais conseguir, de certeza.
- Sabes, eu penso muito nisso Kika. O Ruben a qualquer momento pode sair do Benfica e do país e eu faço tenções de acompanhá-lo. Ai, mas vai custar-me tanto estar longe da minha mãezinha.
- Pois mas se calhar é melhores começares a preparar-te.
- Sim, já comecei. Acho de que desta época não passa. – Sorriu tentando evitar a tristeza – Mas será para o bem dele. É a profissão dele, certo? E mudando de assunto. Já falaste com o David hoje?
- Hum, porque noto uma certa provocação nessa pergunta, Raquel?
- Oh… (sorriu), eu acho que há qualquer coisa em vocês, não sei, o sorriso com que sairam da cozinha no domingo, a forma como se olham mas também como se evitam, sobretudo fisicamente. Sei lá, estarão a fugir de algo mais forte que vocês?

Olhei-a durante uns bons segundos em silêncio e percebi que ela ansiava por uma informação importante.

- Pareces a Si. Vocês fazem cada filme… minha nossa!
- Ah, mas afinal não sou a única a notar qualquer coisa. E ela conhece-te tão bem como eu conheço o David. E eu sei o que se passou na cozinha. – Dizia, enquanto me fitava tentando desarmar-me.
- Sim, houve um beijo. Mas não passou de uma brincadeira.
- Ahhh, andaram a brincar aos papás e às mamãs? – Soltou uma gargalhada que pôs toda a gente na esplanada a olhar para nós.
- Fala baixo. – Repreendi-a por entre um sorriso envergonhado – É o que eu digo: tu e a Sílvia são iguaizinhas. Ambas completamente maluquinhas da cabeça. Eu e o David somos só amigos, capisce? Tal como eu e tu somos amigas.
- Credo – a Raquel voltava a levantar, sem perceber, o tom de voz – Nós não andamos para aí aos beijos.

Fez uma cara tão engraçada que eu soltei uma gargalhada. As atenções estavam de novo centradas em nós. Baixámos as cabeças tentando disfarçar a vergonha mas não conseguíamos parar de rir descontroladamente. Ao fim de alguns minutos e muitos exercícios de respiração, estávamos recompostas.

- Mudando de assunto novamente, Raquel. Hoje podíamos jantar lá em casa. Não me apetece nada estar sozinha.
- Parece-me muito bem. Ligamos aos rapazes. Oh… mas não vão estar os seis magníficos reunidos. – Dizia enquanto fazia uma espécie de beicinho.
- Pois não. – Sorri – Mas vai ser divertido na mesma. E como amanhã também vou para Coimbra e só volto domingo, era giro.
- Vais para Coimbra?
- Sim, tenho o aniversário da minha irmã.
- E vais perder o derby? Pensei que tinha companhia para ir ao estádio…
- Vejo na televisão. Mas não quero faltar à festa da caçula.
- Fazes bem. Eu também não faltava. Bem vamos ligar aos rapazes?
- Sim.
- Então liga ao David que eu ligo ao Ruben e ao Gustavo.
- Não estarão no treino?
- Hum talvez. Mandamos mensagem, então, eles depois lêem.
- Ok. Olha vamos pagar que eu tenho de ir andando.
- Está bem. Dás-me boleia? Hoje vim de transportes.
- Sim, então vamos lá até à margem sul.

Saímos do café e metemo-nos à estrada. A viagem até minha casa foi longa mas divertida. Descobri que havia alguém que cantava pior que eu e que esse alguém se chamava Raquel. A minha mais recente amiga. Começava a acreditar sinceramente que havia um qualquer propósito para o David me ter batido no carro naquele maldito dia. “Maktub” pensei, por entre um sorriso rasgado.

5 comentários:

  1. entao hoje nao ha fic??
    va la posta la um cap...
    bjs

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  2. inicialmente, não percebi o que queria dizer "Maktub" mas depois foi pesquisar e percebi que faz sentido :)
    adorei este capitulo e estou a adorar a tua fanfic, ana.
    publica mais :b
    beijnho.

    http://sofiarc.blogspot.com/

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