sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Capítulo 11 - Oooohhhh… A vida faz-me bem

 

Acordei com a plena sensação de que tinha dormido uma eternidade. Sentia-me leve, tranquila e com uma vontade enorme de sorrir. Eram oito e meia da manhã. Levantei-me e abri a persiana. Não sei se para deixar que o sol invadisse o meu quarto e o meu espírito ou se para olhar de novo para aquela janela. Deixei-me ficar por ali um bom bocado, encostada à janela, tal como na noite anterior. A Si percebeu que eu estava levantada e não conseguiu resistir à curiosidade.

- Bom dia alegria! – Deu-me um beijo – Que tal correu o jantar com o senhor dos caracóis?
- Bem – sorri – quero dizer, sabes que comigo há sempre de tudo.
- Hum… houve beijo?
- Oh, não sejas parva. Não, não houve. Mas houve sorrisos, lágrimas, olhares…
- Lágrimas? – Perguntava a Sílvia enquanto se sentava na minha cama. – Não me digas que o jantar foi assim tão emotivo. Epá, ele é o David Luiz, mas não é preciso tanto… – Sorriu.
- O Tiago ligou-me.
- O QUÊ? – mudou logo de expressão facial.
- Para o telemóvel da empresa.
- Como é que ele soube o número?
- O idiota ligou para a empresa e deram-lho, como é normal.
- Tratou-te mal?
- Não muito… só me chamou de pêga! – Disse eu num tom irónico.
- Eu juro que eu mato esse gajo, ai mato, mato. E é já para a semana quando for a Coimbra. Eu vou à procura dele nem que seja ao raio que o parta e mat…. – Não deixei a Si terminar a frase.
- Calma Sílvia. Hoje não me apetece chatear com nada, estou de folga – Sorri.
- Sim, e estás muito calma e sorridente para o meu gosto!

A Si tinha razão. Aquele sorriso estúpido teimava em não desaparecer da minha cara.

- Olha lá, Si, não vais trabalhar?
- Vou, vou. – Respondeu enquanto dava um salto da cama. Aproximou-se de mim, colocou-se ao meu lado, imitando-me.
- Olha lá porque é que não paras de olhar para aquele prédio? É por ele estar de esguelha? – Soltou uma gargalhada – Aliás, nunca percebi porque está assim. E o nosso também, que engraçado.
- Se calhar o empreiteiro é lagarto e quis que todos pudéssemos acordar e ver aquela maravilha – respondi enquanto apontava para o estádio de Alvalade – se os prédios estivesses virados um para o outro já não dava.
- Oh, tu tens cada uma. Vou-me arranjar senão atraso-me.

A Si começou a dirigir-se para a porta e eu não resisti a perguntar-lhe.

- Conheces alguém que more ali?
- Hum? – fez uma cara de admiração – naquele prédio?
- Sim, conheces?
- Não, porquê?

Contei à Sílvia a cena da noite anterior e expliquei-lhe a minha dúvida, enquanto a seguia até ao quarto onde ela se continuava a arranjar.

- Oh, eu vou descobrir, Kika, eu vou descobrir.
- Não duvido. Agora vou tomar banho que está a apetecer-me ir tomar o pequeno-almoço àquela padaria fantástica.
- A que fica ao pé do famoso cruzamento? – Perguntou sarcástica.
- Sim, essa mesma. – Respondi-lhe, virei as costas, fui buscar uma toalha ao quarto e entrei na banheira.

A água quentinha percorria o meu corpo de uma forma tão relaxante e eu não conseguia parar de pensar naquele jantar, naquela rosa, naquela troca de olhares, naqueles lábios. Sorri.

- Hei, tens a certeza que não houve beijo?

A Si tinha aparecido sorrateira e eu mandei um salto que quase me fazia escorregar na banheira. Valeu-me o ferro do chuveiro ser resistente e não partir com a força com que me agarrei a ele.

- Porra Sílvia, que susto. Não, não houve beijo nenhum, já te disse.
- Mas houve alguma coisa. Eu conheço-te.
- Oh, vais mas é trabalhar. – Respondi-lhe enquanto lhe mandava uns salpicos de água para cima.
- Oooohhhh… A vida faz-me bem – Cantava a Si enquanto se dirigia à porta do apartamento – Ciao bella.

Sorri. Realmente a Si conhecia-me bem demais. Não tinha havido beijo nem precisou de haver. Aquele olhar bastava para me rasgar o sorriso e inundar a minha cara de uma felicidade estupidamente estranha. “Oooohhh… a vida faz-me bem”. A música tinha-me ficado no ouvido. Cantei-a até sair de casa.

******************

Estacionei junto à padaria e antes de entrar não pude deixar de olhar para o cruzamento, o que aumentou ainda mais a minha curiosidade mas também a minha alegria.

- Bom dia, D. Paula.
- Bom dia menina, bons olhos a vejam. Nunca mais apareceu…
- Oh, tenho tido tanto trabalho, deito-me tarde e depois, olhe, saio sempre atrasada de casa e fico sem tempo para vir beber o café.
- Então e hoje, o patrãozinho deixou-a entrar mais tarde?
- Melhor. Deu-me folga.
- Ai que maravilha, menina.
- Se é D. Paula, se é.
- E então, café?
- Sim, mas primeiro quero meia torrada e um galão.
- Morno como a menina gosta. Vá-se lá sentar que eu vou preparar.

Sentei-me na mesa habitual, mas antes levei o Record para dar uma vista de olhos. Olhei para a capa e sorri. Tinha uma imagem do Liedson e do David com o título “Rivais… mas amigos”. Percebi de imediato que devia falar do evento do dia anterior e abri nas páginas indicadas. “Eh lá, duas páginas sobre o assunto. Ai que o Dr. Gonçalves vai adorar isto”. Percorri o texto por alto e nem queria acreditar no que estava no lado direito da página sete. “Uma coluna com o meu texto? Ah e fala na empresa”. Não conseguia parar de sorrir. Estava tão entusiasmada com o que via que nem reparei que a D. Paula estava encostada a mim, de bandeja na mão, a olhar para o jornal.

- Ai que ricas coisas, menina, se eu tivesse vinte e poucos aninhos nenhum dos dois me escapava. – Dizia ela com um ar sorridente e convincente. Eu soltei uma gargalhada.
- O D. Paula… assim é que se fala.

Aquele pequeno-almoço tinha-me sabido às mil maravilhas. Não sei se era da minha boa disposição mas até o café me parecia mais saboroso que o habitual. Paguei e comecei a caminhar para a saída. Recebi uma mensagem no meu telemóvel pessoal. Era do Dr. Gonçalves

“Fez bem em desligar o telemóvel da empresa. Já viu os jornais? Estamos em todos. Bom trabalho. Aproveite a folga da melhor maneira. Cump’s. JG”

Sorri e respondi-lhe. Saí da padaria, acendi um cigarro e segui em direcção ao carro. “Oooohhh… a vida faz-me bem”. Não conseguia tirar aquela música da cabeça. Caminhava lentamente. Estava de folga e fazia intenções de gozar o dia sem pressas. De repente, senti um baque no coração. Olhei em frente e vi um carro branco a passar. Era ele, o David, lindo e sorridente como sempre. Olhou para mim e acenou-me com a mão. Presenteou-me com o seu melhor sorriso e eu, encantada, tentei devolver-lhe o meu mais sincero. Estivemos assim segundos a sorrir um para o outro. Eu parada junto ao meu carro e ele dentro do seu a conduzir. Estávamos tão centrados um no outro que parecia que nada mais existia à volta. Mas a realidade não perdoa. Ouvi um grito masculino, desviei o olhar sem desmanchar o sorriso e senti o meu coração disparar que nem uma flecha. Batia descontrolado. O sorriso desapareceu e deu lugar a uma cara de pânico.

- CUIDADO – gritei eu, já a tremer.

O David travou a fundo, o carro chiou, o cão fugiu amedrontado e o dono do cão insultou o David o mais que pôde, enquanto corria atrás do seu pequeno animal. O David olhou para mim, fez um sorriso envergonhado e encolheu os ombros em jeito de lamento. Despediu-se com um aceno e seguiu caminho. Eu fiquei ali, ainda a tremer. Soltei uma gargalhada, levei a mão à testa e murmurei.

- Este gajo é um terror a conduzir. Porra.

Entrei dentro do carro e preparei-me para arrancar. “Ok, e agora vou para onde?”, questionei-me enquanto ligava o carro. Lembrei-me de imediato de uma amiga minha de infância e das nossas tardes de parvoeira, quando eu lhe perguntava “Nelita, vamos onde?” e ela me respondia imitando o som do vento e abanando a cabeça “Olha, Kika, vamos vvvvvuuuuuuuu”. Eu fazia cara de parva e voltava a perguntar “vamos onde?” e ela respondia com o sorriso mais feliz do mundo “Onde o coração nos levar”. Era exactamente aquilo que me apetecia naquele dia: ir para onde o meu coração me levasse.


6 comentários:

  1. É sempre muito bom ler a tua história :) adoro a forma como descreves os acontecimentos. Escreves muito, muito bem,com muita criatividade.
    Bjinho e amanhã cá estou eu para ver se há novidades.

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  2. Ao que parece o David não é um perigo a conduzir a rapariga é que o tira do serio :)
    Ohhhh a vida faz-me bem (pensamento de ontem, de hoje de amanhã, enfim de sempre ao ver aquela foto :P)

    Marisa

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  3. *-* já te disse que adorava a tua fic?

    nao? mas adoro! venho cá todos os santos dias ver se há mais :$

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  4. Obrigada meninas

    pelos comentários e pela vossa simpatia. Vou fazer ttodos os possiveis para postar um cap por dia.

    beijinhos

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  5. Amei como sempre! Quero mais! :D

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  6. Ai quero mais :D
    Isto e tao ai *.* :P

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