terça-feira, 5 de outubro de 2010

Capítulo 22 - Oh mãe cala-te por favor!


O almoço com a Si correu maravilhosamente bem. Para além de nos termos deliciado com a comida e com a sempre encantadora vista para o Rio Mondego, ainda fomos buscar ao nosso “baú conjunto de memórias” os magníficos tempos da faculdade e as saudades que ficam de todos os momentos passados enquanto estudantes universitárias.

Saímos do Itália pouco passava das três da tarde. Acompanhei a Si até ao carro dela, onde nos despedimos, depois de ela ler uma mensagem que tinha recebido no telemóvel.

- Queres que te vá buscar amanhã à estação? – Perguntou-me a Si.
- Não é preciso, já falei com o Sr. José.
- Ok. Sendo assim vou aceitar o convite do Gustavo para jantar. – Disse-me, sorridente.
- Hum… jantarzinho a dois. Isso ‘tá a pegar. Eu bem te avisei que trabalhares menos teria os seus benefícios.
- És mesmo parvinha. Vá, até amanhã. E boa sorte para logo.
- Bem precisamos. – Dei-lhe dois beijos e comecei a afastar-me.

Fui até casa a pensar na conversa que tinha tido com a Si sobre o David. Na verdade, sabia que estava a ficar apaixonada. Já conhecia demasiadamente bem aqueles “sintomas”. Mas isso assustava-me e era precisamente por isso que, como dizia a Si, eu teimava em negar o que sentia. Apesar dos esforços para contrariar as minhas más recordações, o certo é que o meu passado teimava em atormentar-me o presente. Sabia que a partir do momento em que assumisse aquela paixão, ela iria tornar-se incontrolável, infindável e arrebatadora, o que poderia trazer-me dissabores. Temia também que a evolução dessa paixão pudesse levar-me a amar e isso era definitivamente algo que eu não queria. “Como poderei voltar a amar alguém depois do Tiago? Mais, como posso amar alguém sabendo que esse amor pode ser condicionado pela distância? Não, a separação é algo que não quero voltar a viver! Mas… como posso eu resistir àqueles beijos, àquele sorriso, àquele cheiro?”. Foi com aquelas dúvidas a toldarem-me a mente que cheguei a casa. Foi também ao recordar aqueles beijos que me lembrei da Raquel e do livro. Liguei à Sandra, dona de uma papelaria e a pessoa que me tinha conseguido encontrar o “Música de Praia”, e fui tomar um café com ela. Aproveitámos para colocar a conversa em dia durante um par de horas e eu voltei a casa com a promessa de que o livro me ía ser enviado.

Jantámos em família e a minha irmã nem se importou com o facto de termos comido à pressa para irmos ver o futebol para o café. Ela aproveitou inclusivamente para levar a prenda de aniversário que lhe tinha oferecido: uma máquina fotográfica. Saímos de casa as três sem o meu pai, que prefere sempre não ver derbys fora de casa.

Sentámo-nos, de cachecol ao pescoço, e eu podia ver que os nervos começavam a tomar conta da minha mãe. As mãos que não paravam de suar, o sorriso constante e os lábios secos deixavam transparecer a aceleração do seu coração. A minha irmã mantinha-se com a tranquilidade que a caracterizava e eu tentava disfarçar os nervos com as minhas piadas.

O árbitro deu início à partida. O estádio de Alvalade estava completamente cheio. Três pontos separavam as duas equipas na liderança da tabela. O Sporting, a jogar em casa e motivado pelos cânticos das suas claques, atacava freneticamente, mas não convertia as oportunidades em golo. O Benfica defendia seguro, com Luisão e David Luiz em grande nível. Eu abria o sorriso de cada vez que os operadores da Sporttv faziam um grande plano do David. Conseguia ver nele uma beleza especial naquela noite. O Sporting continuava a insistir e o Benfica respondia em contra-ataque. Estava um jogo bonito, sem faltas excessivas e com uma arbitragem limpa. Mas já só faltavam cinco minutos para terminar a primeira parte e ainda não se tinha gritado golo em Alvalade. Até que Liedson resolveu. Carriço colocou a bola em Matias Fernandez que bateu para Maniche. O veterano abriu na direita para João Pereira, o miúdo pôs na linha para Vukcevic que centrou afinado para a cabeça do levezinho, que apareceu solto entre os dois centrais benfiquistas. Em Alvalade e no café da santa terrinha gritou-se GOOOOOLLLLLLOOOOO de forma ensurdecedora. O intervalo trouxe o descanso à voz e a acalmia ao coração. Eu aproveitei para sair e fumar não um mas dois cigarros. Voltei para dentro assim que a Sporttv retomou a ligação ao Estádio. Sentei-me e embeveci-me com a felicidade estampada na cara da minha mãe. O árbitro mandou começar a segunda parte. Desta vez era o Benfica que mais atacava. Jesus devia ter mandado os rapazes correrem atrás do prejuízo e eles estavam a cumprir. Foram trinta minutos de pressão na área de Patrício. Já Roberto só por duas vezes foi chamado a intervir. Aos 32 minutos, na sequência de um lance sem perigo do Sporting, Luisão entrega a bola a David Luiz que, como tanto gosta, se aventura numa subida do terreno. Passa o meio campo, entrega a bola na linha a Coentrão que sobe velozmente pela ala esquerda e, à entrada da área, devolve ao 23 encarnado, que, com um potente remate, encosta o guardião leonino às redes. “FODASSE”, gritei assim que vi a bola dentro da baliza. A minha mãe deu um murro na mesa, soltou uma data de impropérios e ofendeu o David da maneira que só ela sabe. Instalou-se um mau estar no café onde estavam em maioria os sportinguistas. Bola ao centro e o Sporting reagia ao golo sofrido. Mas não da maneira mais eficaz. Os nervos eram perceptíveis nos jogadores. A partida caminhava a bom ritmo para o final e o empate parecia o resultado mais justo. Mas aos 89 minutos, o meu amigo David lembrou-se de cumprir a sua promessa e, na sequência de um pontapé de canto, saltou mais alto que Carriço e Nuno André Coelho, fazendo o segundo golo encarnado. “FODASSE”, voltei a gritar com mais força ainda. Estava petrificada e não conseguia desviar os meus olhos humedecidos do ecrã. O David corria loucamente de braços abertos em direcção ao Ruben que o aguardava também de braços abertos. Abraçaram-se junto à marca de canto e a Sporttv fazia grande plano da felicidade deles. Eu continuava com o olhar pregado na televisão quando o David me brindou com uma surpresa. Por entre os abraços ao Ruben, consegui ler-lhe nos lábios: “Eu cumpro”. Por momentos senti-me sem ar. Não conseguia discernir o que sentia com mais intensidade: se a felicidade de saber que aquele era um “momento nosso” ou se a raiva de o ver dar a vitória ao Benfica. Peguei na carteira e saí do café sem ver o final da partida. Sentei-me na rua a fumar um cigarro. Passados alguns minutos a minha mãe saiu também, sem proferir qualquer palavra, e começou a afastar-se. Percebi que o destino era a minha casa e segui-a. A minha irmã veio logo atrás de nós.

Chegámos a casa e a Cris lembrou-se de ligar a televisão, colocando automaticamente na Sic Noticias. E lá estava ele, o David, a irradiar felicidade, enquanto respondia ao repórter. A minha mãe, ainda calada, pegou instintivamente no comando, e mudou de canal.

- Oh mãe, o que é que estás a fazer? – Perguntou a Cris furiosa – agora que eu estava a ver o gostosão do David Luiz.
- Olha vai à merda mais o David Luiz – respondeu-lhe a minha mãe ainda mais irritada – Não quero ouvir esse gajo hoje.
- Oh mãe, mas ele está tão giro. – Dizia a Cris enquanto voltava a mudar o canal.
- Está caladinha, ele vale alguma coisa? Muda já essa merda.

Resolvi meter-me na conversa para tentar serenar os ânimos.

- Por acaso vale. É que para além de ser giro é muito boa pessoa.
- Sim, sim, muito boa pessoa – respondeu a minha mãe em tom irónico – e bom condutor também. Tu que o digas.
- Oh, não digas disparates. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. E ele portou-se impecavelmente bem comigo.
- Oh mana, mas tu conhece-lo? – Perguntava a Cris entusiasmada.
- Sim, somos amigos. Conheci-o através da namorada do Ruben Amorim que também é minha amiga.

Achei que mentir seria a melhor solução naquele cenário.

- Eh lá, tenho de ir passar uns dias a Almada, estou a ver. – Respondia a Cris com um sorriso rasgado.
- Eu é que estou a ver que vocês são umas vira-casaca. O gajo é do Benfica – Continuava a minha mãe num tom irritado, agora virando-se para mim – E tu minha menina, estou a ver que andas muito mal acompanhada.
- Está caladinha – Respondi-lhe a sorrir – Eles são boas pessoas, podes acreditar. Mesmo.
- Sim, sim. Tu e os teus amigos. Porra, que tu só te dás com benfiquistas.
- O que é que queres Maria? Eles são mais que nós, a probabilidade de os conhecer é maior.

Eu continuava num tom animado a responder à minha mãe mas ela mantinha o seu ar sisudo e mal-humorado. A minha irmã aproveitou para voltar à conversa e da pior maneira.

- Oh mãe, é melhor não falares assim. Imagina que um dia destes ele se apaixona pela mana?

Apesar de aquelas palavras da minha irmã me terem feito corar, resolvi tentar disfarçar alinhando na brincadeira. Só não estava preparada para o que viria a seguir.

- Imagina só mãezinha. Um dia digo-te que venho a Coimbra apresentar-te o namorado novo e… tchanan – Estiquei o braço em direcção á porta de minha casa como se estivesse a apresentar alguém – mando entrar o David Luiz por esta porta.
- Era o maior desgosto que me podias dar.

Aquelas palavras da minha mãe e sobretudo a frieza e austeridade com que elas foram ditas puseram um ponto final nos sorrisos que eu e a minha irmã dividíamos. Senti o meu coração ficar pequenino. Olhei bem fundo no olhar da minha mãe e encontrei sinceridade naquela frase. O que me magoou mais ainda. No entanto, tinha ainda uma réstia de esperança de que aquilo fosse a raiva pela derrota do Sporting a tomar conta dela.

- Não estás a falar a sério pois não? – Perguntei-lhe com a voz trémula.
- Oh mãe não gozes – Disparou a minha irmã.

Mas a minha mãe manteve-se firme na sua declaração.

- Não estou a brincar. Se algum dia namorasses com esse rapaz ía ser o mais desgosto da minha vida. Jogador de futebol, ainda por cima do Benfica…

Não a deixei terminar a frase. Estava completamente alterada.

- Oh mãe cala-te por favor! Como é que podes dizer uma merda dessas? A porcaria da tua “clubite aguda” é que ainda te vai dar desgostos. O David é boa pessoa, é um óptimo amigo e parece-me um excelente ser humano. Eu quero lá saber em que clube é que ele joga.
- Oh mãe, a gente não gosta do Benfica, nada mesmo, e hoje então odiamos o David Luiz, mas daí a dizeres o que disseste. Porra.

A minha irmã veio em meu auxílio e eu agradeci-lhe, mentalmente, porque por momentos senti que estava a perder o controlo do que dizia e temia expor mais do que aquilo que queria. Sempre tinha tido com a minha mãe uma relação aberta, de confiança mútua, de partilha de histórias, segredos e sentimentos. Mas a distância física tinha levado também a uma distância de relacionamento entre nós. Tenho a certeza de que se ainda vivesse com ela já lhe teria contado o que se havia passado entre mim e o David e, inclusivamente, tencionava fazê-lo durante a minha curta estadia em Coimbra, mas aquela frase tinha mudado o rumo das minhas intenções. A minha mãe estava implacável.

- Olhem, não me chateiem. Vocês não iam sair? Então vão lá e deixem-me em paz.
- Sim, vamos sair. E é agora mesmo. Cris, vai-te arranjar se faz favor.

A minha irmã nem me respondeu. Em quinze minutos vestiu o vestido que eu lhe tinha oferecido e maquilhou-se. Estava encantadora. Enquanto a minha irmã se arranjava, eu fumei um cigarro e troquei de roupa. A minha mãe fechou-se na cozinha a preparar um chá. Já prontas, fomos ter com ela para nos despedirmos.

- Mãe, vamos embora. – Disse-lhe num tom calmo.
- Tenham juízo – respondeu-nos de forma seca – Kika, vê lá se não bebes.

Entrei em choque com as palavras da minha mãe. Senti uma raiva a apoderar-se de mim. A minha irmã ainda tentou evitar o confronto, puxando-me pelo braço.

- Anda mana, já é tarde.

Mas o meu corpo não reagia à ordem da minha irmã. Senti por momentos o chão fugir-me debaixo dos pés. Esforcei-me o mais que pude para sair sem responder à minha mãe mas não consegui.

- Tu às vezes consegues ser mesmo mazinha. Podes estar descansada que eu não vou beber. Mas não o faço por ti, é por mim.

Virei costas e iniciei uma caminhada furiosa até ao carro da minha irmã. Acendi um cigarro e olhei-a nos olhos. Conseguia ver neles tristeza e desilusão.

- Ei, miúda, não te quero assim. É a tua festa de anos e a noite espera por ti. – Sorri, roubei-lhe a máquina e tirei-lhe uma foto – Aliás, eles esperam por ti. Ai, ai que tu hoje vais arrasar.

A viagem até aos Jardins da Associação foi curta. Chegámos e depressa a minha irmã se transformou no centro das atenções. Não só pelo aniversário mas pela sua beleza que, naquela noite, estava inegável. Eu aproveitei para conversar com algumas amigas que já não via desde o natal, mas o episódio com a minha mãe tinha-me roubado o espírito festivo. Duas horas depois, despedi-me e voltei para casa sozinha.  Chorei durante todo o caminho. Senti que as dúvidas, que tinha em relação ao rumo que aquela amizade com o David estava a tomar, se estavam a dissipar. Porque naquele momento tive a certeza de que teria de pôr um ponto final naquele encantamento, naquela atracção, naquele desejo, naqueles beijos. Tive a certeza de que nunca poderia ser mais do que uma simples amiga do David.


*****************

Acordei por volta das dez e meia da manhã e a primeira coisa que fiz foi procurar na internet o primeiro comboio para Lisboa logo a seguir ao almoço. Fui depois para a cozinha preparar qualquer coisa para comer. Encontrei a minha mãe sentada à mesa.

- Bom dia.
- Bom dia. Já acordada?
- Sim, não tenho sono.
- Não vos ouvi chegar.
- Não chegámos tarde. – Fiz uma pausa e coloquei algum leite aquecido dentro de um copo – Vou-me embora depois do almoço – Disse-lhe sem tirar os olhos do copo.
- Então mas não ias só ao final da tarde?
- Tenho de ir mais cedo. Preciso de preparar umas coisas para a empresa.
- Isso é por causa da conversa de ontem?
- Não.
- Parece-me.
- Pois mas não é mãe.
- Kika, eu conheço-te e eu peço desculpa, mas só disse aquilo que penso.
- Claro, estás no teu direito. E ainda bem que não pensamos todos da mesma forma. De qualquer maneira não importa o que disseste, até porque eu nunca te iria dar esse desgosto.
- Tens a certeza?
- Claro. O David é só um amigo, como o Ruben, o Gustavo ou o Paulo, que bem conheces.
- Sim, esse lampião d’uma figa. – Sorriu levemente – mas o David não é só um amigo como o Paulo.
- Desculpa? – Deixei cair a colher no chão – E como é que sabes? Não o conheces.
- Porque os teus olhos não brilham da mesma forma quando falas de um ou de outro. E não precisas de mo dizer. Podes esconder-me a tua vida íntima, mas eu sou tua mãe, conheço-te como ninguém, sei o que sentes, sei o que pensas. E sei que esse David Luiz não é só um amigo.

A minha mãe olhava-me profundamente. Cada palavra sai-lhe da boca com uma serenidade quase medonha.

- Oh mãe cala-te por favor!
- Não queres ter essa conversa agora? Tudo bem. Mas algum dia temos de falar sobre o assunto.
- Não, não temos. Porque não há nem vai haver assunto. Nós somos só amigos e é isso que vamos continuar a ser. Sempre.
- Não digas sempre… (pausa) …porque sempre é muito tempo.

E depois destas palavras a minha mãe saiu da cozinha. Eu continuei lá a mexer o leite que ainda não tinha bebido e a olhar para as bolachas que ainda não tinha provado. E o apetite desapareceu. Irritava-me que a minha mãe soubesse o que se passava na minha vida sem que eu precisasse de lho dizer, mas o que me magoava realmente era que por momento algum ela me tivesse demonstrado que me apoiaria caso eu assumisse aquela paixão. No fundo, eu sabia que não podia contar com o apoio dela. E essa certeza apertava-me o coração e bloqueava-me qualquer sorriso que a imagem do David me pudesse provocar.

9 comentários:

  1. Muito bom.

    MAs não separes o David da Kika.

    Qaunto mais leio, masi quero!

    Continua, please quero mais

    ResponderEliminar
  2. Brutal este capitulo, muito bom e os promenores, nem sei se o melhor é o benfica vencer, :), se a referencia aos jardins da associação.
    É muito boa a tua fic, continua.
    Cá estarei á espera do proximo.

    Elsa

    ResponderEliminar
  3. Boa Noite,

    Antes de mais quero felicitar-te pela fantástica FanFic que aqui tens publicado e pela grande forma com que cativas os leitores.
    Na realidade acompanhei a tua fic desde o inicio e gostei muito, parabéns!

    Por segundo, e não com menos importancia, quero agradecer-te , pois reparei que o meu blog se encontrava na tua lista de sugestões, fico muito grata a sério.
    Já agora, fica a saber que serás desde já sempre muito bem-vinda áquele espaço que se dedica ao David Luiz.
    Continuarei a acompanhar a fanfic, espero que faças o mesmo com o meu blog, terei muito gosto.

    A gerência:

    www.david--luiz.blogspot.com

    ResponderEliminar
  4. Gosto do facto de me teres oferecido uma maquina fotografica, ahahah <3

    ResponderEliminar
  5. a mãezinha a que sabe *-*

    quero mais :D

    ResponderEliminar
  6. Este regresso a Lisboa promete.
    Nada como uns dias separados, para ter mais "vontade" de matar saudades

    ResponderEliminar
  7. A tua fic é uma das melhores, a serio!
    Gosto imenso, parabéns, e continua a postar! ;)

    Beijinhos,
    Castro

    ResponderEliminar
  8. Olá

    muito obrigada, do fundo do coração, pelos comentários deixados.

    Peço desculpa por não postar com mais regularidade, mas o tempo nem sempre mo permite.

    Um beijinhos grande

    ResponderEliminar
  9. Cada vez melhor! Amo a tua fic :)
    Continua
    Beijinho

    ResponderEliminar