terça-feira, 12 de outubro de 2010

Capítulo 25 - Sinto-me tão culpada


A Sílvia ainda dormia à hora que eu saí para a empresa. Entrei silenciosamente no seu quarto e deixei-lhe um bilhete em cima da mesinha de cabeceira.

“Babe, vou para o Porto em trabalho. Regresso amanhã à noite. Eu estou bem, a sério que estou. Mas vou aproveitar para “fugir” e abstrair-me das voltas malucas que a minha vida tem levado. Não ligues. Eu vou dando notícias. Ti amo. Beijinho no coração”

Beijei-lhe docemente a face e saí. Chegue à empresa em cima da hora e já o Sr. António esperava à entrada para guardar a minha mala na bagageira do Mercedes do Dr. Gonçalves. Cumprimentei-o com um sorriso, fui ao gabinete buscar todo o material que necessitava e voltei para junto do carro, onde esperei encostada enquanto fumava um cigarro. O Dr. Gonçalves e o João apareceram logo depois.

- Bom dia.
- Bom dia Ana – Cumprimentou-me o Dr. Gonçalves, tirando a chave do carro do bolso e entregando-ma – Leve o carro, por favor. Sabe que não gosto de fazer viagens longas ao volante.
- Doutor, pode ser o João a levá-lo? Eu preferia trazê-lo na viagem de regresso.
- Claro, por mim não há problema. Mas passa-se alguma coisa, Ana?
- Só uma dor de cabeça. Não dormi muito bem.
- Então vá atrás e descanse. Trouxe tudo o que é necessário?
- Sim doutor – Respondi ao mesmo tempo que abri a porta traseira e me sentei.

Iniciámos a longa viagem até ao Porto. Encostei a cabeça ligeiramente para trás, fechei os olhos e deixei-me contagiar pelo som que saía da coluna. A música que passava era uma das muitas de Bryan Adams, o cantor preferido do Dr. Gonçalves. Como tinha conhecido a mulher com quem casara há 20 anos ao som de “Everything i do, i do it for you”, transformou a discografia do cantor canadiano na banda sonora da sua vida.
Não era propriamente a melodia que me apetecia ouvir naquela manhã, nem tão pouco as letras que queria decifrar, mas não havia nada que pudesse fazer para além de me deixar embalar. Esporadicamente abria os olhos na esperança de poder apreciar a paisagem e distrair-me de qualquer pensamento relacionado com o David, mas a chuva miudinha que batia velozmente no vidro não mo permitia. Ao invés, impunha-me automaticamente um regresso à noite anterior. Eu voltava a fechar os olhos, tentava concentrar-me na letra da música e acompanhava, quase em surdina, o Dr. Gonçalves a cantar. Quando a tentativa de me focar apenas naquele momento falhou e a cara do David voltou a pairar nos meus pensamentos, liguei o computador portátil na ânsia de me distrair com um qualquer jogo. Até ao momento em que a falta de bateria me deixou novamente entregue às vozes do Bryan Adams e do Dr. Gonçalves, ao som da chuva a bater no vidro e às palavras que o David me tinha dito na noite anterior.
Depois da pausa que fizemos para o café e para fumar um cigarrinho, sensivelmente a meio do caminho, eu percebi que não poderia estar mais duas horas a tentar encontrar pretextos para não pensar no David, no que ele sentia por mim e no que eu, embora negando-o, sentia por ele. Voltei a recostar-me no confortável banco traseiro do carro, deixei tombar ligeiramente a cabeça para trás, fechei os olhos e viajei no tempo. Regressei ao dia que os nossos caminhos se cruzaram e tentei perceber que ironia do destino seria aquela que, desde aquele dia, teimava em nos juntar. Pensei no David Luiz, o jogador que me tantas vezes me tinha feito acompanhar, inconscientemente, com uma certa alegria os jogos do rival directo do meu clube do coração. E pensei no David, o homem cuja voz me acalmava, cujo sorriso me alegrava, cujos lábios me faziam estremecer, cujas palavras me prendiam. Não conseguia parar de pensar no David, o homem que me tinha levado a sentir de novo borboletas a bailarem no estômago, o ser humano que tão pouco conhecia mas que a cada dia me cativava um bocadinho mais, a pessoa pela qual estava completamente apaixonada. Deixei que um sorriso se abrisse na minha face e, ironicamente, senti vontade de abraçá-lo. E foi com uma enorme saudade do David que cheguei ao Porto. 

Tinha acabado de entrar no pavilhão de dimensões gigantes onde decorria a feira quando recebi uma mensagem da Si.

“Olá babe. Espero que estejas mesmo bem. Assim que chegares, diz alguma coisa. Baci.”

Agradeci mentalmente à Si por respeitar o meu pedido e respondi-lhe de imediato.

“Já cheguei. E sim estou bem. Vou andar atarefada. Prometo não me esquecer de ti. Beijo”

Sabia que a Si não ia responder. Guardei o telemóvel e caminhei com o Dr. Gonçalves e o João para o stand da empresa, que já tinha sido montado pelos colegas que tinham chegado no dia anterior. Os dias no Porto foram marcados por uma correria maluca. Entre o atendimento ao público que se dirigia ao stand para saber mais acerca dos produtos da empresa; os passeios pela feira na tentativa de encontrar e analisar os stands das empresas concorrentes; o colóquio onde o Dr. Gonçalves participou; os jantares, irritantemente formais, aos quais o patrão nos teimava em levar, a mim e ao João, não sobrou tempo nenhum para enviar uma mensagem ou fazer um telefonema.
Eram seis e meia da tarde de sexta-feira quando saímos do Porto. Tal como prometido, desta vez era eu quem conduzia o Mercedes. Como já não chovia, sabia que podia abusar um pouco mais do que o João na velocidade. O Dr. Gonçalves nem sequer reparava no conta-quilómetros, tal era a sua concentração nas músicas do Bryan Adams. Apesar da máxima atenção com que conduzia, não podia evitar que o meu pensamento vagueasse, pontualmente. E o destino era sempre o mesmo: a imagem do David. Contrariando totalmente as minhas intenções, aquela estadia no Porto tinha-me feito sentir imensas saudades do David.

O João dormia refastelado no banco de trás, eu conduzia tranquilamente e o Dr. Gonçalves cantarolava as suas músicas preferidas. Até que o CD terminou. O meu patrão desviou os olhos da estrada, pela primeira vez desde que tínhamos saído do Porto, e fixou-os no relógio do carro. Deu um salto do banco, olhou para mim aflito e gritou.

- Ana, a que horas joga o meu Benfica?
- Às oito menos um quarto Doutor.
- Bolas, temos de parar para ver o jogo. – Enquanto falava comigo, mexia atrapalhadamente no rádio, tentando sintonizar qualquer emissora que já estivesse em directo do Estádio da Luz – Qual é a próxima estação de serviço?
- Mealhada. Já estamos perto. Paramos lá.
- Óptimo. Ver o Benfica e comer um leitãozinho… parece-me muito bem. – Continuava entretido com os botões do rádio – Ah, encontrei.

O rádio estava sintonizado na Renascença. O comentador ia informando que faltavam quinze minutos para o início da partida e avisou que já tinha disponível os “onzes iniciais”. Começou pela equipa do Benfica. O Dr. Gonçalves aumentou o volume. O jornalista começou a divulgar os nomes pela habitual lógica das posições, começando na baliza. Estava a falar sobre a defesa e não proferiu o nome do David. Eu e o Dr. Gonçalves trocámos imediatamente olhares surpresos.

- Ei, oh rapaz, esqueceste-te do David Luiz? – Perguntava o Dr. Gonçalves, dando leves palmadas no rádio, onde o jornalista continuava a divulgar os nomes dos jogadores.
- Que estranho o David não jogar. Que será que aconteceu Doutor?
- Não faço a mínima ideia, Ana.

Mas a resposta não tardou. O comentador da Renascença prontificou-se a revelar a justificação para aquela ausência invulgar do David na equipa titular do Benfica.

“Nota para ausência de David Luiz no onze, que nem sequer foi convocado para a partida desta noite. O departamento médico do Benfica fez saber, em comunicado, que o central brasileiro ficou de fora das contas de Jesus por se encontrar com sintomas gripais.”

- Fodasse! – Deixei escapar por entre os dentes.

O Dr. Gonçalves nem se apercebeu, estava demasiadamente concentrado nas declarações do jornalista. Eu, ao invés, nem sequer percebi o que ele continuava a dizer. Fui imediatamente absorvida pela imagem do David à chuva à porta de casa do Paulo na noite de quarta-feira. Instantaneamente, uma sensação de culpa invadiu-me o corpo e a mente.

Entrei na área de serviço da Mealhada. O Dr. Gonçalves saiu imediatamente em direcção ao restaurante para procurar a mesa com melhor visibilidade para a televisão. Eu acordei o João, que estremunhado saiu do carro. Acendi um cigarro e comecei uma busca raivosa pela minha carteira. “Como é possível que ele esteja doente e ninguém me diga nada?”. Encontrei o telemóvel e deparei-me com um sem número de chamadas da Si e do Gustavo. Algumas já recebidas na noite anterior. Fiquei ainda mais furiosa. Avisei o João que ía fazer uns telefonemas e fui sentar-me num banco junto ao estacionamento. Marquei o número da Si quase sem pestanejar. Ela atendeu-me num tom desesperante.

- Porra, Kika, estava a ver que não.
- Desculpa, babe, desculpa. Opa foram dias stressantes, desculpa, só agora vi as vossas chamadas. Já sei que o David está doente. Como é que ele está?
- Na cama, com uma gripe descomunal.
- Merda, páh, eu disse-lhe para ele sair da chuva. É tão teimoso esse gajo. E eu sinto-me tão culpada.
- Não tens de sentir. Ele é grandinho, já devia saber o que pode e não pode fazer.
- Oh, mas sinto. Como é que ele está?
- Passou o dia a arder em febre, mas agora está um pouco melhor. O médico do Benfica medicou-o e nós temos feito uns chás.
- Estás aí em casa?
- Sim, dá sempre jeito uma mulher nestas ocasiões. - A Si sorria espontaneamente e eu ouvia o Gustavo reclamar – Olha, e tu como estás?
- Estou exausta, mas estou bem. Olha, estamos na Mealhada, vamos jantar e ver o jogo e depois seguimos viagem. Assim que chegar vou aí ter. Só tenho de ir à empresa buscar o meu carro, ok?
- Não é preciso, Kika, o David está deitado, está a recuperar. E tu precisas de descansar.
- Eu tenho o fim-de-semana todo para descansar. Não se fala mais no assunto. Assim que chegar vou aí ter.
- Ok, faz como quiseres.
- Óptimo. Então espera aí por mim. Agora vou jantar, sim?
- Sim, vai lá. Até logo. Façam boa viagem. Venham devagar.
- Não te preocupes, sou eu que vou a conduzir.
- Pior. A sério, vem com calma, babe. Prometes?
- Sim, prometo. Beijinho.

Não tenho uma única recordação dos noventa minutos do jogo do Benfica, sei apenas que tinha ganho por três a zero nem tão pouco da viagem que fiz entre a Mealhada e o Seixal. O meu único pensamento, a minha única preocupação, o meu único deseja eram o David. E só o David.

Entrei em casa do David movida por uma vontade enorme de o abraçar, apesar do receio provocado pelo sentimento de culpa que teimava em não me largar.

- Desculpem não ter atendido as chamadas. – Disse à Si e ao Gustavo, enquanto os cumprimentava.
- Não tem mal babe. Estás bem? Pareces tão cansada. – Perguntava-me a Si com a preocupação estampada no rosto
- Estou bem, a sério. Só quero ver o David. Como é que ele está?
- Melhorou. Mas tá lá no quarto. Vai lá, ele vai ficar bobo de te ver.
- Achas Gu?
- Tenho a certeza, Kika.

O sorriso do Gustavo tranquilizava-me um pouco. Afinal, ele conhecia perfeitamente bem o David. Pousei a carteira em cima da mesa da sala e caminhei em direcção ao quarto do David. Entrei, pé ante pé, para evitar o som provocado pelos tacões das botas. Só a luz do candeeiro da mesa de cabeceira estava ligado, iluminando o rosto pálido do David, que estava deitado no lado direito da cama, mais junto da janela. Eu sentei-me do lado contrário, mais próximo da porta, descalcei cuidadosamente as botas e gatinhei em cima da cama até junto do David. Debrucei-me ligeiramente junto a ele e fiz-lhe uma festa na cara. Deixei-me perder, por momentos, nos traços perfeitos daquela face. Apesar das profundas olheiras arroxeadas e dos lábios gretados pela febre, a beleza do David permanecia incólume.

O David abriu lentamente os olhos e sorriu para mim. Eu retribui o sorriso e dei-lhe um beijo na testa. Percebi naquele momento que ainda ardia em febre.

- Kika – Disse-me com a voz rouca, enquanto empurrava os cobertores para trás.
- Olá doentinho. Como te sentes?
- Um pouco melhor. Mas tou morrendo de calor e ainda me dói um pouco a cabeça. O que você tá fazendo aqui?
- Vim ver como estavas. Cheguei há pouco do Porto.
- Está com um ar cansado.
- A viagem foi cansativa. – Sentei-me na cama, sem desviar o olhar do David. – Eu pedi-te tanto para saíres da chuva. E agora sinto-me tão culpada por estares doente.
- Deixa para lá. Eu é que devia ter tido cuidado. Essa burrice me fez falhar o jogo. Sabe como ficou?
- Ganharam. Três zero. Mas os adeptos sentiram a tua falta.
- E como você sabe?
- Porque eu vi o jogo e os muitos cartazes dedicados a ti. Tens de te por bom para o próximo jogo.
- Tenho mesmo.

O David voltou a puxar os cobertores para cima de si, depois de ter soltado um arrepio.

- Estás todo transpirado por causa da febre. Deixa lá ver a temperatura. – Debrucei-me sobre ele e peguei o termómetro que estava em cima da mesa de cabeceira. – Toma, põe isso na boca.

Fiquei a contemplá-lo enquanto esperávamos pelo sinal do aparelho que chegou uns minutos depois.

- Deixa ver, caracolinhos. – Peguei no termómetro. – Trinta e oito. Temos de baixar isto. E de mudar esta roupa da cama que está toda húmida e ainda te faz pior. Vai tomar um duche com água morna que troco os lençóis e vou-te preparar um chá.

O David nem reclamou. Levantou-se, retirou uns boxers e um pijama dentro de um gavetão e os lençóis de outro. Foi para o chuveiro ainda a cambalear. Eu refiz a cama com a roupa lavada e fui à cozinha preparar o chá. Enquanto esperava pelo David, fui ter com a Si e o Gustavo à sala. Conversámos até ouvirmos a água parar de correr. Peguei o chá e uma garrafa de água na cozinha e voltei para o quarto. Esperei, deitada, que o David secasse o cabelo. Sentia os olhos pesados, a cabeça zonza, o corpo dorido. Mas a preocupação com o David era interminavelmente superior ao meu cansaço. Levantei-me assim que senti o David entrar no quarto.

- Você está exausta, lagartixa.
- Eu sou rija, ainda me aguento um bocadinho mais. Vá, deita-te e bebe o chá.

O David fez o que lhe ordenei. Deitado de lado e apoiado no braço direito, bebeu o chá de uma só vez. Eu arrepiei-me. Estava completamente enjoada com aquele cheiro que eu tanto odiava, mas evitei o mais que pude demonstrá-lo ao David. Ele pousou a caneca em cima da mesinha e deitou-se. Eu tapei com os cobertores até ao pescoço e sentei-me ao seu lado.

- Sentes-te melhor?
- Um pouquinho, mas essa dor de cabeça ‘tá me matando. E não ‘tou podendo tomar mais remédio. – A cara do David espelhava o seu sofrimento.
- Queres que te faça um cafuné? Pode ser que ajude a diminuir a dor. A Si costuma fazer-me e resulta.
- Obrigado Kika, obrigado mesmo.
- Shiu. Não agradeças. Eu estou aqui porque quero. Vá, chega a cabeça mais para aqui.

Sentada, encostei-me à cabeceira da cama, puxei a almofada do David ligeiramente para cima da minha perna e ele deitou a cabeça. Entrelacei a minha mão nos seus caracóis e muito lentamente comecei a rodopiá-la, enquanto que, com a ponta dos dedos, lhe massajava o couro cabeludo. O David estava de olhos fechados e eu conseguia sentir pelo tacto o seu relaxamento.
Senti, naquele momento, brotar em mim o meu lado mais protector. Uma faceta que definitivamente tinha herdado da minha mãe e que fui desenvolvendo ao longo da vida enquanto irmã, prima e amiga mais velha. Adormeci com o meu coraçãozinho um pouco mais feliz.

Foi uma terrível dor nas costas e a dormência do braço que me fizeram acordar. Não tinha a mínima noção de quanto tempo teria dormido, sabia apenas que não estava na minha casa e que era para lá que devia voltar. Afastei-me delicadamente enquanto segurava na cabeça do David e a pousava de novo na almofada. Arrastei-me levemente pela cama e saí do quarto cuidadosamente, para não acordar o David daquele sono que, pela sua feição, me parecia tão delicado. Fui até à sala à procura da Si e do Gustavo, mas não os encontrei. Contudo, a mala, o casaco e as botas da Si denunciavam a sua presença na casa. Voltei ao corredor e vi a porta do quarto do Gustavo fechada. Depreendi que estivessem a dormir juntos. Peguei no meu telemóvel e vi as horas. “Merda, já são quatro da manhã. E agora?” – perguntei a mim mesma, enquanto me encostava à janela da sala. Vislumbrei a minha casa ao fundo e tentei, por segundos, ponderar qual seria a melhor. Num acto quase inconsciente, peguei na carteira e voltei para o quarto. Fechei a porta lentamente e corri com os olhos o quarto do David. Encontrei em cima do puff vermelho umas calças de treino e uma sweat. Irreflectidamente, avancei para lá, olhei para o David para me certificar que ele estava a dormir, virei-me de costas e despi-me. Tirei primeiro a camisola, depois o soutien e vesti rapidamente a sweat. Voltei a olhar para o David para confirmar que dormia e num gesto que me pareceu suficientemente veloz despi as calças e vesti as do David. Estava a fazer umas dobras na cintura quando uma voz me fez gelar o sangue.

- Que bunda mais bonita – Disse-me o David num tom envergonhadamente provocador.

Mandei um salto, terminei as dobras de forma acelerada e virei-me num ápice.

- Porra David que susto. Pensei que estivesses a dormir. – Senti-me corar.
- E estava. Mas qualquer coisa me fez abrir os olhos. E ainda bem.
- E ainda bem o tanas. Que vergonha, pá!
- Vergonha de quê, sua boba? Desse bum bum gostoso.
- Shiu. Acabaram-se os elogios ao meu rabo. Gostoso? – Perguntei com desdém – Deves estar a alucinar. É melhor voltarmos a ver essa temperatura.

Peguei no termómetro e enfiei-lho na boca. Continuava corada e deveras constrangida. O aparelho deu sinal, o David tirou-o num ápice e mostrou-mo.

- Tá vendo? Não tou mais com febre não.
- Pois, então deve ser o sono que te faz dizer essas parvoíces.
- Deixa de ser boba, Kika. Vai dormir comigo? – Perguntou-me com um sorriso rasgado.
- Vou dormir ao pé de ti, sim. Já são quatro da manhã, a Si está a dormir com o Gu e eu não quero ir para casa sozinha.
- Ué, claro que não. Vem – O David pegou-me a mão e puxou levemente para junto dele – Deita aqui.

Eu passei por cima dele sem lhe tocar e deitei-me, debaixo dos lençóis e cobertores, ao seu lado. Podia sentir o calor do seu corpo. Senti uma enorme vontade de abraçá-lo, de beijá-lo, de lhe abrir o meu coração. Mas fechei os olhos e tentei afastar aqueles pensamentos. Esforcei-me por adormecer mas, apesar do enorme cansaço que continuava a sentir, não conseguia dormir. Percebi que também o David se esforçava para adormecer. Não parava de se mexer. Abanava o pé esquerdo, coçava o braço direito, virava a cara para um lado e depois para o outro. Suspirava. Eu continuava quietinha no meu canto da cama. Mas ao fim de uns largos minutos, aquela agitação do David começava a preocupar-me. Abri os olhos e deitei-me de lado, virada para ele.

- Caracolinhos, estás bem? Precisas de alguma coisa?           
- Não, está tudo bem.
- Então porque é que não paras quieto?
- Não consigo dormir – Agora também ele se deitava de lado, virado para mim.
- Então se calhar é melhor eu ir para o sofá. Diz-me só onde estão os cobertores.
- Não – Disparou prontamente – fica aqui comigo.
- Ok, eu fico. Mas então dorme. Tens de descansar.
- Eu sei. – Fez uma breve pausa. – Posso te pedir uma coisa?
- Sim, claro.
- Chega mais para junto de mim e me abraça.

Respirei fundo e senti o bater do meu coração num compasso acelerado. Quis negar-lhe o pedido, mas o seu olhar penetrante fez-me aproximar, num acto quase hipnótico. Cheguei um bocadinho mais perto, rodei um pouco mais o meu corpo e abracei-o. Ficámos assim, com os corpos entrelaçados durante um par de minutos. Um enlace perfeito que o David aproveitou para me sussurrar ao ouvido.

- Deixa eu dizer que estou apaixonado por você, deixa?

Olhei-o bem fundo e não consegui evitar um doce sorriso.

- Está dito.

Perdendo totalmente o controlo do meu corpo, deixei que a minha cabeça se inclinasse e beijei o David suavemente. Voltei a sorrir-lhe e deitei-me novamente de barriga para cima. O David imitou-me o gesto. Estávamos agora mais próximos. Os nossos pés brincavam ao fundo da cama. As nossas mãos encontraram-se por entre os nossos corpos e apertaram-se, primeiro de forma suave, depois com mais firmeza. O David apagou o pequeno candeeiro colocado sobre a mesa de cabeceira e sussurou.

- Estava precisando ficar assim com você… lado a lado.

Não lhe respondi. Limitei-me a apertar-lhe um pouquinho mais a mão. No silêncio absoluto do quarto do David, adormecemos embalados pelo bater dos nossos corações.

10 comentários:

  1. Está mm lindo!!

    Adorei mm o capitulo!

    Quero mais.........

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  2. Ana este capítulo está Lindo, lindo....
    Continua....
    beijinhos
    SP

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  3. que bonito aninha... tenta postar tds os dias sim?? a tua fic ta de dia para dia mais interessante...
    posta hoje sim??

    bjs

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  4. ** awwww que capitulo tao bom *-*

    quero mais aninhas :)

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  5. Ai que capitulo tão apaixonante.
    Cheira-me que apartir desta noite aqueles dois se vão entender.

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  6. maravilhoso...

    Continua tou muito curiosaaaa...

    Se poderes posta mais hoje, por favor...

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  7. Este capitulo é um espetaculo, mesmo profundo, fantastico.
    Brutal, não tenho mais palavras, amei.
    Vou esperar roidinha pelo próximo.
    Beijo

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  8. A tua fic é linda *.*

    Parabens!
    Continua....

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  9. Woww este capítulo...WOW
    *.*
    Gostei!!
    Continua!!!
    Beijo! ^^

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