sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Capítulo 23 - Em fase de negação


 

Entrei sorrateiramente no quarto para dar um beijinho de despedida à minha irmã. Ela dormia tão profundamente que eu achei melhor não a acordar, apesar de me custar ir embora sem me despedir. Deixei-lhe um bilhete em cima da mesinha de cabeceira, dei-lhe um beijo leve e saí. Fui ao outro quarto e despedi-me do meu pai. Peguei na mala e fui ter ao carro, onde a minha mãe já esperava por mim. Seguimos viagem até à estação Coimbra-B sem trocar qualquer palavra e chegámos lá cinco minutos depois. A minha mãe acompanhou-me até à bilheteira.

- Boa tarde! Um bilhete para o Alfa, com destino Lisboa, por favor.
- Boa tarde, menina. Com certeza. Mas aviso-a já que os comboios estão todos com, pelos menos, duas horas de atraso. – Disse-me o senhor da bilheteira.
- Então porquê?
- Houve um grande acidente numa passagem de nível lá para o norte. A informação das autoridades é que precisam de no mínimo duas horas para reabrir as linhas.
- Ok, muito obrigada. Eu aguardo.

Peguei no bilhete e saí. Encostei a pequena mala a um banco no exterior da estação e sentei-me. A minha mãe ficou de pé a olhar para mim com um ar surpreendido.

- Estás a pensar ficar aqui duas horas à espera?
- Claro, mãe. Não posso sair daqui, imagina que até despacham a coisa mais cedo.
- Oh, estas coisas infelizmente só têm tendência par atrasar nunca para adiantar.
- Sim, talvez.
- Olha, porque é que não vamos beber um café ali ao Choupal?
- Ok, vamos lá. Por acaso tenho saudades de lá ir.

Saímos da estação, voltámos a entrar dentro do carro e em dois minutos chegámos à Mata do Choupal, que fica pertinho da estação. Estacionámos o carro na entrada da mata e fizemos um pequeno percurso a pé até ao café. Sentámo-nos na mesa da esplanada mais afastada do parque de merendas, que estava cheio àquela hora. Pedimos um café, um carioca e um cinzeiro.

- Que saudades das tardes de estudo que aqui fazia com a Su e Mari. – Disse enquanto olhava à minha volta – Sobretudo nas épocas dos exames de Junho e de Setembro.
- O tempo passa Kika. Parece que ainda ontem entraste para a faculdade e olha só o que aconteceu desde então.
- Tens razão mãe. Então, já estou em Almada há mais de meio ano, vê lá, ainda me lembro dos primeiros dias lá em casa e no trabalho. E que tormento que foram esses dias.
- O tempo ajuda… (pausa) … e agora até já tens amigos famosos e tudo.
- Tinha de vir a piadinha, não era Dona Maria?
- Estou só a brincar. Olha lá, a Si vai-te buscar à estação quando chegares?
- Não, é o Sr. José, já tinha falado com ele. E a Si vai jantar com o Gustavo.
- Namorado novo?
- Acho que ainda não, mas não deve faltar muito – Sorri.
- E quem é esse Gustavo? Já de manhã falaste nele como se eu o conhecesse.
- Desculpa. É um amigo de infância do David, que vive com ele em Portugal. Também é jogador de futebol.
- Hum, estou a ver porque é que vocês saem todos juntos. Seis pessoas, três casais.
- Oh, não me irrites.
- Então, o Ruben e a namorada, a Si e esse Gustavo… parece-me lógico que tu e o David…
- Oh mãe, vá lá, outra vez essa conversa não!
- Mas tu gostas dele, não gostas Kika?
- Não – respondi rapidamente tentando mostrar sinceridade.
- Não me mintas. Se não gostasses não tinhas levado tão a peito o que eu disse ontem. E já tinhas falado nele, coisa que ainda não fizeste, a não ser para referires o acidente e o convívio com os meninos.
- Não te estou a perceber. – Olhei-a intrigada, tentando acompanhar o seu raciocínio, enquanto acendia um cigarro.
- Quando conheceste o Paulo, dois dias depois já falavas nele como se o conhecesses há meses. Duas ou três semanas depois já ele estava em Coimbra contigo e com a Si. Do David nunca me falaste.
- Oh mãe é só um amigo.
- Pára Kika, eu sou tua mãe.
- Que queres que te diga?
- A verdade!

Olhei a minha mãe nos olhos. Conseguia perceber nela uma necessidade extrema de descobrir até que ponto a afirmação do dia anterior tinha sido grave. Resolvi abrir o jogo.

- Ok. A verdade. Depois do convívio com os miúdos, nós fomos jantar só os dois, houve logo uma empatia grande, apenas quebrada por um telefonema de um certo sacana!
- O quê? – A minha mãe arregalava os olhos. – Esse gajo ainda leva…
- Shiu. Não me interrompas. Depois eu conheci o Ruben e a Raquel, que é a namorada dele. Ah, e também o Gustavo. Apresentei-lhes a Si e começámos a sair todos. Jantamos várias vezes ou simplesmente nos encontramos para um café. Por norma em casa de um de nós. E é isso – Dei a última passa e apaguei o cigarro.
- Mas isso já eu tinha percebido. Só ainda não percebi a razão desse brilho nos teus olhos.
- Oh, o sorriso dele, a boa disposição, o olhar… (pausa) … os beijos. – De repente percebi que estava com um sorriso rasgado sob o olhar atento da minha mãe – Ai mãe nem acredito que te estou a dizer isto.
- Queres saber a minha opinião?
- Não, obrigada.
- Mas eu dou-ta na mesma.
- Se é para dizeres que é um desgosto ou uma merda do género vale mais estares caladinha, por favor. Até porque se trata só de um encantamento normal de quem já não estava habituada a sentir as maravilhas provocadas por um beijo e não vai passar disso, porque eu não quero, percebes? Eu não quero. – Estava um pouco exaltada.
- Já acabaste? – Perguntou-me calmamente.
- Sim.
- Ok. Tu estás apaixonada e estás em negação. O que já não é novidade para mim…
- Oh mãe…
- Ei! – A minha mãe apontou-me o dedo quase ao nariz – Agora falo eu. Mas não é isso que me preocupa, aliás fico muito feliz que estejas a abrir, de novo, as portas do teu coração. O que eu quero é que o faças com calma e sensatez. Penso que não é o caso. Já ponderaste bem sobre quem é o David Luiz? Sobre o estatuto dele e sobre a invasão que fazem à sua privacidade? Já pensaste no facto de ele estar prestes a sair do Benfica? O que eu acho que é um dado adquirido, por muito que ele diga publicamente que é o clube que ele ama. Estarás pronta para te meteres numa relação tão complicada? Pensa bem no que te estás a meter Kika.

Eu mantinha-me calada, a olhar atentamente para a minha mãe. Aquelas perguntas não eram novas para mim. Eram, aliás, as mesmas que eu fazia a mim própria nas últimas 48 horas. Acendi novo cigarro e fiquei a ouvir a minha mãe.

- Ouve filha, eu sei que ontem não devia ter usado aquela palavra. Desgosto não era bem o que queria dizer. Só que de facto assusta-me que estejas apaixonada por esse rapaz. Mas também sei que assim que assumires essa paixão, a minha opinião não vai valer de nada, porque tu és teimosa e independente demais para deixares que a opinião dos outros sejam mais importantes que a tua. Sempre foste assim e hás-de continuar a ser.
- Mas eu não estou apaixonada pelo David.
- Estás sim. Só não queres admitir.
- Não quero nem vou fazê-lo. Porque as minhas respostas às tuas perguntas são todas positivas. Sim já ponderei, sim já pensei, sim já sei… e é precisamente por isso que não vou assumir absolutamente nada. Porque não estou preparada para relação de espécie nenhuma.
- Kika, nem tu acreditas no que estás para aí a dizer.
- Ok. Acabou a conversa. Vamos embora?

Olhei para o relógio. Quase sem darmos por isso já tinham passado duas horas desde que nos tínhamos sentado ali. Apaguei o cigarro e pedi a conta. A minha mãe ainda disparou.

- Vamos. Olha lá, quando é que deixas a porcaria do tabaco?
- No mesmo dia em que me apaixonar. – Sorri.
- No mesmo dia em que assumires, queres tu dizer.
- Que seja.

Pagámos e voltámos para a estação. Esperámos mais quinze minutos pelo comboio. A minha mãe esteve sempre comigo. O comboio parou na linha 3 e eu preparei-me para entrar. Dei um beijo à minha mãe.

- Xau mãezinha. Obrigada pela conversa.
- Xau filha. Obrigada eu por me ouvires, depois da estupidez que te disse ontem.
- Oh, esquece isso.
- Vens cá no meu aniversário?
- Talvez, mas não no dia mesmo, porque é à semana. Venho no fim-de-semana seguinte, pode ser?
- Ok. Traz a Si e o Paulito.
- E o David?? – Fiz-lhe uma careta.
- Não abuses, Kika, não abuses – Respondeu-me a minha mãe tentando uma cara zangada.

Demos um longo e apertado abraço. Eu entrei no comboio e soltei um profundo suspiro. Olhei pela janela, acenei-lhe e vi-a a limpar as lágrimas. Eram sempre assim as nossas despedidas: chorosas. O comboio arrancou e eu liguei ao Sr. José a informá-lo de que estava a sair de Coimbra. Encostei-me no banco e pensei no quão a vida é injusta. A infelicidade de alguém, supondo que o acidente na linha-férrea teria resultado em morte, tinha permitido que eu viesse de Coimbra em paz com a minha mãe, depois daquela conversa sincera.

************************

Cheguei a Lisboa pouco mais de duas horas depois. O Sr. José lá estava, pontual e amável como sempre, à minha espera. Acenou-me assim que me viu sair da carruagem. Dirigi-me até ele e seguimos viagem para minha casa. Inevitavelmente, o tema da conversa durante a viagem foi o derby e a “fantástica actuação do David Luiz”, dizia-me o Sr. José sorridente.

- Acho que este ano o Benfica não o segura, menina.
- Hum, hum.
- Ele está em grande forma. Recuperou bem do mau início de época que fez.
- Hum, hum.
- Então menina, não diz nada?
- Não. Já tive a minha dose de David Luiz este fim-de-semana.
- Então, mas o fim-de-semana ainda não acabou menina.
- Nem me diga isso Sr. José, acho que já levei dose suficiente.

Passado algum tempo chegámos à entrada do prédio onde vivo. Despedimo-nos e eu subi. Assim que entrei em casa, pousei as trouxas no quarto e fui a correr para a banheira. Precisava mesmo de um banho relaxante, para poder colocar ordem no meu cérebro e no meu coração.

Estive cerca de meia hora no banho. Tentava chegar a um consenso e não conseguia. Estava a ficar desgastada psicologicamente por causa das minhas indecisões. Era praticamente inegável para mim que estava apaixonada pelo David. Só de pronunciar o nome dele, o meu coração palpitava velozmente, os meus lábios eram invadidos por um sorriso e o meu corpo acometido por um desejo louco de o beijar. Mas depois sofria um qualquer despertar de consciência que me relembrava o quão perigoso podia ser assumir aquela paixão.
Saí do banho com uma decisão tomada. “Ok Kika vais negar qualquer sentimento pelo David até ao limite e se necessário for, afastas-te por uns tempos, por muito doloroso que seja”. Entrei no quarto, acendi a luz, baixei a persiana sem sequer olhar para a janela do David e vesti um fato-de-treino quentinho. Fiz uns cereais, bebi um café, fumei um cigarro e lavei os dentes. Sentei-me no sofá, com o portátil em cima das pernas a tentar actualizar-me das notícias do dia. Algo que tinha evitado até então por saber que aquele miserável derby seria o tema central de qualquer jornal. Abri a página do Record e arrependi-me no mesmo segundo. A notícia em destaque era de novo a presença de “olheiros” enviados por grandes colossos do futebol europeu no jogo da noite anterior para apreciar a exibição do David Luiz. E mais uma vez o título da notícia era a garantia de que ele sairia no final da época. “Estás a ver Kika, ele vai embora não tarda nada. Por isso cada vez que te apetecer beijá-lo, abres a porcaria desta notícia e metes juízo nessa cabeça desmiolada”.

Fui interrompida nos meus pensamentos pelo toque da campainha. Supus que a Si se tivesse esquecido da chave, pousei o computador no sofá e fui a correr abrir a porta. Mas afinal era uma visita… e que visita! O David tinha o seu melhor sorriso. No corpo umas calças de ganga e uma sweat azul escura com carapuço. As mãos estavam escondidas atrás das costas.

- Oi lagartixa, tudo bom?
- Olá… – Engoli em seco. Não estava nada à espera de ver o David naquela noite. – Tudo e contigo, caracolinhos?
- Tudo legal.
- Entra.
- Primeiro preciso de te dar um presentinho.
- Hum… estou curiosa.

O David puxou as mãos de trás das costas e ofereceu-me duas rosas brancas. Fiquei completamente encantada com aquele gesto. Peguei nas rosas e cheirei-as. O David entrou e seguimos para cozinha. Tirei um copo alto do armário e, depois de o encher de água, coloquei lá as rosas.

- A que se deve este presentinho?
- É um pedido de desculpa. Uma rosa por cada golo…

Soltámos uma gargalhada conjunta.

- Opa, és mesmo maluquinho. Nem sei o que me apetece mais: se dar-te com as rosas na cabeça ou se agradecer-te com um beijo.
- Eu prefiro o beijo – Respondeu-me esticando a cara para junto da minha.

Eu agarrei-lhe na face com uma das mãos, rodei-a ligeiramente para o lado esquerdo e beijei-lhe a bochecha direita.

- Não era o beijo que eu esperava, lagartixa. – Disse-me fazendo beicinho.
- Não abuses da sorte Caracolinhos. E por favor, hoje não me chames lagartixa. Ainda estou muito sentida contigo. – Saí da cozinha e comecei a caminhar para a sala – Aliás, eu jurei que te matava se tu cumprisses a promessa, por isso não sei se foi boa ideia vires cá a casa.
- Poxa, agora fiquei com medo. – O David fingia uma cara amedrontada.

Sorrimos. Sentámo-nos no sofá, onde estava o meu computador aberto com a notícia sobre o David escancarada no visor.

- Você ‘tava lendo essa bobagem?
- Sim. – Senti-me constrangida. Peguei no computador e fui pousá-lo em cima da mesa – Mas não quero falar sobre isso. Não me interessa minimamente se vais sair do Benfica ou não.

Falei de forma ligeiramente ríspida. O David desmanchou o sorriso que tinha na cara e olhou para mim de forma séria.

- Eu também preferia não falar sobre as notícias a meu respeito.
- Óptimo. Então estamos em sintonia.
- Tudo o que houver para saber, você saberá por mim.
- Ok.

Por momentos, o ambiente na minha sala ficou constrangedor. Mas o David era perito em quebrar o gelo.

- Ué, e seu fim-de-semana como correu?
- Quase perfeito. Culpa tua. – Sorri.
- Mas eu já pedi desculpas, lagartixa.
- Opa não me chames isso outra vez, que eu passo-me.
- Você fica linda quando está zangada. Ainda mais linda.
- Oh, não sejas parvinho.
- E aí vamos jogar uma partidinha de bowling? Preciso da desforra. – Sorriu docemente, enquanto ia ligando a Wii sem esperar pela minha resposta.
- Não tenho alternativa, pois não?
- Ué, tá com medo? Perdeu as qualidades em Coimbra?
- Que engraçadinho. O meu forte no jogo, não são as qualidades, é a inspiração.
- Isso é desculpa, garota. Você tá com medo mesmo.
- E tu estás a irritar-me. – Disse, fingindo um tom zangado – Mas pronto, se te apetece levar outra coça, vamos lá.

Sorrimos. Preparámos o jogo e mais uma vez foi o David o primeiro a lançar a bola. Genial, como sempre. Já eu, definitivamente, não estava nos meus dias, o que dava um gozo enorme ao David. A cada jogada que eu falhava ele ria perdidamente. Eu irritava-me um bocadinho, mas depois a raiva fazia com que a jogada seguinte me saísse pior. Acabei por desistir de ficar chateada e comecei a levar o jogo de forma divertida. Acabámos quase num concurso de “pior jogador de bowling”. Não conseguíamos parar de rir. Até que se acabaram as jogadas. Deixamo-nos cair desamparados no sofá.

- Esquece lagartixa, parece que esse fim-de-semana você não ganha de jeito nenhum.
- Olha David, voltas a chamar-me isso e eu…
- Lagartixa! – O David estava a provocar-me.
- Opá pareces os putos. Ai que vontade de te…
- Beijar? – Ele aproximou-se repentinamente de mim. Estávamos tão próximos que eu sentia a respiração do David na minha cara.
- Não parvo, de te bater. – Respondi-lhe, tentando controlar-me.


Mas o David sorria para mim de uma forma tão terna que eu fiquei completamente desarmada. De repente, tudo o que estava à nossa volta desapareceu. Éramos só nós naquela sala. Os nossos olhos fitavam-se intensamente. Sentia o meu coração bater cada vez mais acelerado. Os nossos lábios tremelicavam de desejo. Os dele podia vê-los, os meus podias senti-los. Tentei a todo o custo concentrar-me na conversa com a minha mãe, mas o rosto do David estava a dificultar-me a tarefa. Num movimento repentino e impensado, aproximámo-nos e beijámo-nos com paixão. Envolvemo-nos num abraço apertado, enquanto os nossos lábios se movimentavam sem hesitar. Parámos, ofegantes. O David fez-me uma festa na cara, afastou-me o cabelo para trás da orelha e sorriu. Eu fui assombrada pela realidade, e num instante o arrependimento começou a percorrer-me os ossos. Ainda assim, não conseguia desviar o meu olhar do olhar do David.

- Já é tarde. E eu estou muito cansada.
- Tá me mandando embora? – Perguntou-se de sorriso no rosto.
- Estou. – Respondi-lhe também a sorrir.
- Tem razão. Tá ficando tarde mesmo.

Levantámo-nos e eu fui levá-lo à porta de casa. Ele vestiu o casaco que entretanto tinha tirado e colocou o carapuço.

- Uh, ficas tão sexy assim. – Usei um tom irónico.
- Eu sou sexy. – Enquanto falava o David ía fazendo poses. Soltámos uma gargalhada.
- Tu és é um grande convencido. Vá, vai-te lá embora. Obrigada pela visita.
- Não tem que agradecer. – Dei-me um beijo na testa – Eu vim porque eu precisava de te ver. ‘Tava morrendo de saudades suas.

Senti um arrepio percorrer-me o corpo. O David pousou a mão na minha face direita e humedeceu os lábios.

- Kika, eu preciso te falar uma coisa.

Bastou procurar mais fundo na imensidão esverdeada dos seus olhos para perceber o que ele me iria dizer. “Não faças isso”, pedia-lhe mentalmente, na esperança de ser “ouvida”. No entanto, não conseguia pronunciar qualquer palavra. Ele chegou-se mais perto de mim.

- Eu estou… – fez uma pausa e trincou o lábio inferior, enquanto eu continuava desesperadamente à espera que ele não continuasse – …eu estou gostando de você. Na verdade, eu estou apaixo…
- Shiu – Num acto irreflectido, levei-lhe a mão à boca, não o deixando acabar a frase – Por favor, David, não o digas.

Ele afastou-me ligeiramente a mão da sua boca. Eu deixei-a cair para junto do corpo.

- Mas eu preciso te falar o que sinto. – O David pegou no meu queixo e obrigou-me a encará-lo.
- Por favor.

Ele voltou a dar-me um beijo na testa e abraçou-me. Eu deixei-me envolver no calor do seu corpo e por momentos senti uma enorme vontade de chorar. Mas não deixei que o David o percebesse. Sorri-lhe enquanto o via afastar-se. Fechei a porta e fui sentar-me no sofá, onde o cheiro dele ainda permanecia. Deitei a cabeça numa almofada e não consegui lutar mais contra aquela lágrima teimosa. “Merda, Kika, tens mesmo de te afastar por uns tempos”.


2 comentários:

  1. Excelente

    Continua, quero mais please

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  2. Muito bom!!!
    Mas o que é que a Kika nos tá a preparar???
    Vou ficar ansiosa pelo próximo.

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